VINDE VER!
Insegurança Social
A nossa casa do Calvário, em Beire, nasceu do sonho de Pai Américo, que veio a tornar-se realidade ainda hoje viva pela acção abnegada do nosso Padre Baptista, que esteve desde a sua fundação e inauguração em 1957. Um ano depois do nascimento de Pai Américo para o Céu. E desde lá, acompanha a Obra que deixou e que tão amada e querida tem sido ao longo de várias décadas pelos nossos povos irmãos de Portugal, de Moçambique, de Angola e de outras nacionalidades, cuja caridade ultrapassa os limites geográficos, culturais, sociais, político e religiosos. Era desejo de Pai Américo que cada homem que viesse a ter contacto com a Obra da Rua pudesse encontrar uma porta para conhecer a Deus. Ou melhor, para reconhecê-l'O no rosto dos pobres abandonados, doentes e desprezados por quem de direito tendo sido investido de poder pelo povo para zelar e assegurar os direitos dos filhos indefesos da máquina brutal construída na base de leis injustas, coloca-os neste momento em estado de risco iminente. E o risco é este: iludir os pobres doentes e a sociedade toda de que existe alguma segurança num sistema inseguro desde a sua base ao topo. O fariseísmo social instaurou-se serenamente, e de uma civilização fortemente cristã, hasteiam-se bandeiras de incredulidade espelhadas pelos actos desumanos dos tempos novos de perseguição às Obras de Deus. Alguma autoridade ainda continua a gozar de autoridade quando na sua acção manifesta comportamentos desumanos? Vejamos então: quando um grupo de pessoas entra em casa alheia deve por respeito e educação pedir licença, seja quem seja, goze do título que goze. O respeito é bom e fica bem a toda a gente. Aconteceu que faltando estes pressupostos um grupo entrou sorrateiramente na casa de família e colocou tudo em debandada. Uma acção insegura para quem pretende dizer, ser e agir para assegurar. A contradição é também característica marcante no seio dos fariseus e doutores da lei, tanto daquele como deste tempo. Dizem uma coisa e fazem outra. E quando em matéria levada ao Tribunal os mesmos dizem aos outros que isto é um crime de invasão a propriedade alheia. E agora? Não é crime? Também não digam que seja alguma segurança. Até o cego vê que não é. Foi assalto lento e com o sorriso de crocodilo para as câmaras televisivas. Vamos todos do lado da justiça trazer outra segurança para as pessoas de modo particular para os doentes indefesos. Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho tinha dado a seguinte advertência: "tende cuidado com o fermento dos fariseus".
A aldeia do Calvário, em Beire, é uma casa de família dos sem família acamados, alguns há varias décadas, que nasceu com o objectivo de acolher os doentes incuráveis e abandonados, que já não tinham lugar nos hospitais, nem nos asilos. E estando atirados à margem da sociedade, sem lugar ao sol para viver, ao menos tivessem no Calvário um lugar onde na hora do chamamento para passar deste mundo para o melhor, pudessem adormecer em paz e com dignidade merecidas. No silêncio do dia-a-dia quem visita o Calvário, sem interesses de perseguição social, reconhece que aquelas almas santas que habitam aquele "santuário doméstico", no dizer do Papa São João Paulo II, gozando da mais plena caridade dos padres da Obra da Rua, estando presente no dia-a-dia ao seu lado ou espiritualmente devido à distância. Como no Evangelho Jesus nos assegura: "onde está o teu tesouro aí estará o teu coração". Ou gozando do carinho das Senhoras verdadeiramente maternais, a exemplo de Maria, ou dos voluntários que lá dão a sua vida. O Calvário foi a última inspiração, o sonho final, ou como dizia "o meu último grito, o canto do Cisne". A sua inauguração veio a acontecer depois da morte de Pai Américo. Cumpriu-se o seu sonho, e o cisne voltou a cantar. Não deixemos que as aves de rapina venham debicar o tesouro escondido que ainda canta na aldeia do Calvário. A conclusão é de Pai Américo: "Não te afaste do pobre, nem na vida nem na morte. Senhor de misericórdia não retireis jamais da minha inteligência a loucura do Divino".
Padre Quim