SINAIS

Um velho missionário, meu companheiro na minha primeira viagem para Angola. Vi-o a olhar o mar, encostado na amurada. Seus olhos perdidos na bola rubra do sol… Estaria ele a pensar nos cordeirinhos praceados?!… Vi-o sorrir! Seu sorriso penetrou o tom escuro do mar! Depois, uma lágrima rolou e perdeu-se no ar… Teria ficado a boiar nas ondas? Ou teria voado até ao regaço de sua mãe?

Toquei-lhe no ombro. Sorriu. E fomos ao bar do navio, a tomar café. Ofereceu-me um charuto da sua Holanda. Mastiguei o café, o charuto e aquela lágrima a rolar cá dentro!

— Há muito que trabalha nas missões? Falei.

— Há quinze anos, respondeu.

— Custou-lhe muito deixar os seus?

— Da primeira vez, não; agora, porém, custou-me um pouco. Gosto muito de teatro e ópera. Todos os dias, as minhas sobrinhas me acompanhavam. Na despedida, os meus amigos ofereceram-me uma caixa de charutos! A minha missão é mesmo no centro de Angola. Lá não há teatro, família nem charuto! Sou muito amigo dos meus paroquianos, quero-lhes como a filhos! Mas eles não sabem fumar um charuto ao pé de mim…

Ficou silencioso. Levantamo-nos os dois — como se ambos tivéssemos necessidade de fugir. Saímos para o deck. Os últimos raios de sol afagavam levemente a cabeleira do mar até ao mergulho nas ondas.

Em silêncio — ficamos olhando até aparecer a primeira estrela! E ele falou:

— Veja a Ursa Maior! Sabe, ela é a minha namorada… Quando sinto saudades — mando por ela beijinhos à Holanda… Está mesmo em cima… — Sorrimos os dois.

Padre Telmo