
SINAIS
Recordo com saudade o começo da barragem de Picote. Para o nosso povo foi um acontecimento — nunca tinham visto uma barragem.
Ficaram surpresos quando viram aparecer os engenheiros nos seus jeeps.
Logo a seguir começaram a chegar homens — sedentos por trabalho.
Sendo pároco de Picote comecei a encontrar na estrada gente com ânsia de trabalho. Alguns vinham das barragens e minas do Minho e outro locais. Os trabalhos começaram. Em pouco tempo eram mais os trabalhadores que os lugares de trabalho.
Os senhores engenheiros viram-se aflitos para conseguirem emprego para todos...
Entre os trabalhadores, alguns tinham trabalhado nos túneis das barragens e das minas do Minho — onde contraíram silicose, escondendo-a por amor ao sustento dos filhos.
Os trabalhadores começaram com força em todas as frentes e nasceu uma luta contínua com as rochas e a fúria do nosso Douro. Quotidianamente notei e saboreei a delicadeza e carinho dos senhores engenheiros e responsáveis para com os simples operários.
Para mim a delicadeza dos responsáveis para com todos foi um sinal de bem e de alegria, ao lado das rochas mudas e indiferentes aos banhos de cimento.
A obra começou a tomar forma e no mergulho de quatro anos, que nos pareceu um instante, surgiu luminosa — a linda barragem de Picote.
Não mais olhámos as fadigas diárias dos operários — olhámos, sim, a beleza da nossa barragem e o milagre da lua!
Nova era! Um tempo novo!
Lágrimas de alegria — e algumas de dor? Tudo.
Mas surgiu um bem! Uma nova face de Portugal — de Miranda até ao Mar...
Faz-nos bem vir a Picote e mergulhar no bem das barragens do Douro para o nosso Portugal!!!
Padre Telmo