
SINAIS
Numas férias, fui para uma montanha. Montei minha tenda à beira de um rio. Com a licença de uns pastores, guardei as minhas coisas na sua casinha. Eles estavam noutra zona de pastagem. Na segunda tarde, chegaram dois casais e pediram-me para guardar suas coisas na casinha. Montaram suas tendas na sombra dos carvalhos.
O Daniel, barbudo, tem olhos de criança e neles, reflectidos, os rios e as montanhas. Canta, e acompanha com o violão, canções de paz e esperança.
Neste momento, o sol assoma nos penedos altos. E ele canta e toca, sentado numa rocha. Belo! O mundo do Daniel assenta numa filosofia onde tudo é permitido e natural — desde que não ofenda os outros e os próprios sentimentos.
Não teve educação religiosa. Deus tem sobre ele olhares de ternura. Quem fará germinar, no seu coração, a sementinha da Fé?
Alheio a tudo, como se fosse um zimbro, no meio das rochas, das urzes vestidas de lilás e das carquejas torradas, ele canta:
«Porque fazemos a guerra
E nos matamos sem sentido
Uns aos outros?
Que bela é a paz!
Que bela é a esperança!
Que belos os rios
Uma ave e uma flor!
Vamos todos regressar
Ao sentido
Das coisas belas
E do amor».
Escutei-o com encanto! Belo o seu cantar, a par do murmúrio do rio que desce da montanha.
Não mais vi o Daniel — mas está presente nas minhas orações… Sei que está no olhar de Jesus.
Padre Telmo