SINAIS 

Conheci em Angola um sacerdote belga que vivia numa zona de guerra. As pessoas fugiam dos tiros e iam refugiar-se na sua Missão. Ele dava-lhes dormida e pão e tratava das suas feridas. Vivia pobremente e dormia no chão. A Caritas da cidade de Malanje mandava para a sua Missão géneros alimentares.

Várias vezes, a Sra. Directora da Caritas me pedia para eu transportar. Fui várias vezes levar os alimentos e estar com o Pe. Luís — 100 km de picada.

Numa das idas chegava um grupo de fugidos à guerra, com ar de cansados e de fome. No grupo vinha uma velhinha com um rapaz que nos pareceu ser seu neto… Com ar de cansada, a velhinha sentou-se no chão – magrinha e doente – mal falava. Ao ver-nos e agarrada à vara, conseguiu pôr-se a pé e seguiu com Pe. Luís para a casa da Missão.

Depois de dois meses, fui de novo. Pe. Luís, cansado mas feliz — ao ver o jeep carregadinho.

Desta vez, entrei no seu quarto. Na última vinda, tinha-lhe oferecido uma cama de solteiro com toda a roupa. Não vi a cama. Ele dormia no chão em tarimba de soldado.

Na manhã seguinte, Pe. Luís chamou-me.

— Venha ver a velhinha da última vez…

Fui. Apresentou-me uma jovem bonita de vinte anos, com seu irmão.

A velhinha da última vez!...

Não pode, respondi. Como é possível?!...

É ela – certo.

Fiquei confuso e feliz. O que faz o carinho e uma boa alimentação!…

Padre Telmo