SINAIS
A Eucaristia dominical na nossa capela que foi espigueiro. Estamos os velhos, doentes e Jesus na sua casinha - o sacrário. Mais o P.e Alfredo, que preside. É o Calvário.
Foi o sonho de Pai Américo: acudir aos doentes incuráveis - aqueles que ninguém quer. Pai Américo entregou o sonho a P.e Baptista e partiu para o Pai. P.e Baptista agarrou o sonho, projectou e deu vida ao Calvário.
Assisti à vida no Calvário. Vi chegar muitos doentes que P.e Baptista trouxe de tugúrios. Somos hoje um pequeno número de utentes, por motivo de obras requeridas.
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O António José falou-me: - Um senhor disse-me que a nossa Obra ia morrer.
- Deus não vai querer. Fica tranquilo.
O Fausto diz que não. Sempre que me encontra nestas manhãs de gelo, agarra minhas mãos idosas e geladas - esfrega nas suas que são brasas. - Como consegues ter as mãos tão quentes ? Ele sorri.
O Fausto é angolano. Entrou pequenino na Casa do Gaiato de Malanje. Com suspeita de doença grave, veio para Portugal. Foi só suspeita. Ficou no entanto na Casa de Paço de Sousa. Começou a estudar. Está muito gordinho e é um ás no futebol. Já tirou um curso de pastelaria e pensa e sonha com a sua casinha no Lobito, onde tem família.
Há entre nós um laço que não parte. Uma união de amor entre o pai de cada Casa e seus filhos gaiatos. Laços que sustentam e dão vida.
Mesmo no Calvário, não são só doentes que esperam o comprimido e a tigela de sopa. São nossa família. Estamos com eles e damos a comer na sua boquinha, quando já não podem. Os próprios que ainda são capazes ajudam nas tarefas. Foi assim com Pai Américo e P.e Baptista.
Falhas? Pois - tantas!... Na visão do mundo que trocou o amor pela paixão da técnica e olhos nos lucros, ficamos sem pé e os nossos rapazes sem apoio desse mundo novo e agreste.
Mais preparação? Pois. Um novo salto e mergulhar mais fundo, até termos pé para um novo e eficiente apoio.
Padre Telmo