SINAIS

O nosso Padre Alfredo, antes de ir fazer recados, chamou o sr. António e mostrou-lhe a nossa avenida coberta de folhas, deu-lhe uma vassoura e: - Veja, não custa nada, deixa em montinhos para depois levarmos.

- Sim, sim -, respondeu. Olhou a vassoura e poisou o olhar no tapete das folhas. Uma brisa mais forte embalou das árvores mais uma rabanada de folhas amarelas a boiarem no ar até aos beijinhos das irmãs no chão.

O sr. António, encostado na vassoura, embebecido na contemplação, acordou com os passos do nosso Padre Alfredo.

- Então sr. António?

- São muitas! - Pôs boné na cabeça e mudou de lugar, sorrindo.

Padre Alfredo pegou no ancinho e começou a fazer montinhos.

Eu, atingido em cheio pelo 'são muitas', tão ingénuo e oportuno, não me contive e explodi em gargalhadas - 'são muitas'.

* * *

Temos quatro ovelhas. Há dias, o nosso Fernando, «Rebuçados», deu-nos um macho.

Se não fosse esta pandemia, já tinha ido à minha aldeia transmontana a pedir mais duas cordeirinhas.

Há dias, já tarde, encontrei a porta da corte fechada. Abri devagarinho. Elas - tristes - a olhar-me.

- Vamos -, e encostei-me para elas passarem. Passaram devagarinho por mim. Aos quatro passos, uma corrida para o pasto.

À tarde vieram sozinhas.

* * *

Os pavões. Temos três fêmeas e um macho. Tínhamos um macho belo - um sonho! Um dia foi perseguido por um cão. Levantou voo por cima da nossa Capela Espigueiro e não o vimos mais. Agora já não andam livres no recinto do nosso Calvário. Têm uma casinha deles.

Em todos os recantos recordamos a presença do nosso Padre Baptista. Mas sobretudo é a sua Capela, o seu espigueiro, a Casinha do Senhor.

Todos os dias entro nas matas. Ando por entre o arvoredo. Recordo aquele que o plantou e cuidou.

Todas as noites recordo o grito do pavão que voou, no seu cumprimento às fêmeas.

* * *

Rondo a mata e paro no espigueiro. Olho os cogumelos de granito, à prova dos ratos e defesas do milho. Agora não há ratos nem milho. São os nossos pecados a esmagar os cogumelos de encontro ao chão.

Dentro, no cantinho, sem defesa - o Senhor - dia e noite, no suporte contínuo de nossas fraquezas e ar leviano.

Os cogumelos não gemem. Suportam, em silêncio, os nossos arrepios de frieza.

Padre Telmo