SINAIS

O pároco daquela aldeia do Douro tinha-me pedido para celebrar a santa Missa daquele Domingo às 7:00h da manhã. Fui e celebrei. Sua Irmã ofereceu-me o pequeno-almoço. No fim, convidou-me a ver o seu menino de três meses de vida. Fui. Um quartinho limpinho e decorado já com brinquedos de criança. Já ela levantava o lençol do botãozinho de carne. O menino era deficiente profundo. Ela notou minha tristeza...

— Sabe, ele aumentou entre mim e o meu marido mais união e mais amor, pelo carinho que lhe damos!

Fiquei sem palavras... Mas logo louvei o seu grande amor pelo botão que nunca será flor.

— É a nossa alegria e sentimos que vivemos para ele!

Que meditação profunda fiz sobre os problemas da vida e a grandeza do amor.

* * *

Estava no moinho dos Monges de Cister, lá perto de Pitões. Bateram-me à porta — um homem de 40 anos de aspecto bondoso. Era o aniversário da morte da sua esposa e queria que lhe celebrasse a santa Missa.

— Mas eu estou aqui sem transporte...

—  Eu venho por si e venho traze-lo.

Disse-lhe que sim e no dia marcado lá estava com o seu carrito. Fomos e a santa Missa foi na Capela da sua terra — vi nos seus olhos uma grande fé e muita esperança.

No caminho de regresso abriu o seu coração: — Sabe, no tempo da minha esposa era ela que tratava dos nossos três filhos deficientes. Um deles ainda tem algum tino e trata de si; os outros dois são mesmo dependentes. Sou eu que trato deles...

Estremeci. Senti-me pequenino e insignificante ao lado daquele gigante. «Sou eu que os cuido.»

Quanto carinho senti por aquele homem simples e bom.

— Sabe, - disse eu — sou da Obra do Padre Américo e também temos uma casa com deficientes físicos e mentais.

Olhou para mim com mais simpatia.

Mal eu supunha que, dali a dois meses, iria eu tratar dos nossos doentes. Limpar-lhes o cocó, vesti-los e dar-lhes de comer...

Dois anos felizes! compreendi então a alegria daquela Mãe e o contentamento daquele Pai ao tratar dos seus meninos.

* * *

E já agora — o meu amigo Dr. Taveira, que foi Reitor do Liceu de Malanje. Um homem bom — amigo dos angolanos. O número de angolanos no Liceu era sensivelmente igual ao número dos alunos portugueses.

Soube um dia numa festa de professores. Faltou porque era o dia de passear a sua menina... que menina? Sua filhinha mais nova, deficiente profunda.

Mais tarde, na intimidade, me confessou que ela — a sua menina — era o elo mais profundo de toda a sua família. Pais e mais quatro irmãos, todos bem ligados a esse elo amoroso.

Padre Telmo