SINAIS
O Faneca, conheci-o de menino, sentado na sua cadeira de tudo. Tinha uma mãozinha presa ao braço da cadeira com uma frágil tira de pano. Para ele, era uma corrente. Para os estranhos era uma prisão.
A seu lado estava outro menino com duas trancinhas, este comia a roupa. O Faneca é incontinente.
Ao telefone, um senhor engenheiro amigo pediu-me para passar oito dias no Calvário. Que sim, e veio. No segundo dia, pediu para passear os dois prisioneiros. Que sim.
Logo no princípio da rampa que leva aos pavilhões foi um desastre total. O da roupa, mastigava já meia manga da camisa. Ao Faneca foram três banhos: corpo, roupa e chão.
- Têm razão -, falou o meu amigo.
- Porque prenderam um parente nosso no hospital?
- Pergunte.
O Faneca ainda vive. Tem 50 anos. Só está feliz quando dorme ou está a comer.
É mais regular nas suas necessidades. Muitos o levam a passear nas ruas do Calvário. Não ri, nem chora. É o Faneca.
Padre Telmo