
PELA CASA DO GAIATO DE SETÚBAL
Alguém disse com muito saber que, para a qualidade do trabalho junto dos mais vulneráveis (como as crianças e jovens) "não bastam algumas horas, segundo um horário de trabalho. É preciso disponibilidade, tempo, coração e inteligência, sentimento e vontade" de fazer o Bem e fazê-lo bem, com profissionalismo e excelência nas suas diferentes realidades humanas. Pelo que, sem descurar o rigor do trabalho a desempenhar a "Casa do Gaiato" é caracterizada pela vida cheia de alegria e generosidade que contribui para que as crianças e jovens interiorizem uma cultura de valores morais e sociais universais, facilitadores de uma convivência sã e pacífica como, por exemplo, o da solidariedade social.
Idealizando-se que a transmissão consistente destes valores contribui para uma cidadania activa e responsável nas comunidades em que estão inseridos: "casa", escola, actividades de tempos livres e actividades de tempo lúdico, pois o Direito a Brincar é reconhecido como um direito fundamental de toda a criança e jovem porque só este direito permite a aquisição de competências e experiências que permitem um desenvolvimento e amadurecimento de cada um, mesmo que cada um a seu tempo.
Desta forma as crianças e jovens acolhidas por saberem, conhecerem e viverem a verdade passam a ser eles próprios a oferecer as experiências que receberam.
Esta sempre foi a motivação que norteou a Obra do Padre Américo, pois o início, dos inícios foram precisamente as ditas colónias de verão, seja na praia, ou na "montanha" com as quais começou o nosso fundador a caminhada com as crianças e jovens das "ruas e becos" de Coimbra, proporcionando-lhes momentos de formação, de experiências diferentes em meio ambiente mais descontraído, e por isso tempo de brincadeira e jogos variados.
Nesta senda se percebe, que existam das nossas ditas casas de férias, como Azurara, Mira e aqui em Setúbal, a Casa de Férias do Portinho da Arrábida. E por isso, mais um ano estamos a deleitar-nos nestes dias, sitiados no Portinho da Arrábida, local emblemático e de obrigatória passagem de turistas e veraneantes que por aqui vão passando.
A vida, por cá, inicia-se de manhãzinha com a oração matutina, colocando-nos na presença de Deus, rezando na Capela que contém além de um quadro original do Arq. Sousa Araújo, "resumindo" em pintura os principais mistérios do Novo Testamento, também se encontra uma escultura representando a "Pietá", obra do mesmo autor. E de referenciar que o Altar, Credência e Sacrário, por ele desenhados, foram realizados em pedra da "brecha da arrábida".
Depois do "mata-bicho" organiza-se a vida da casa, em que três grupos tratam de fazer a limpeza interior, outro "faz" a copa e refeitório, e "serve as mesas" e o terceiro cuida do espaço exterior, e um dos elementos, rotativamente acompanhado responsabiliza-se pela lavandaria, aprendendo a colocar diferenciadamente a roupa na máquina, a escolher o programa de lavagem, e por fim estender e recolher a roupa, entregando-a organizada a um dos rapazes.
No fim tem lugar o tempo lúdico de jogos: "playstation", de tabuleiros, "assistir" tv, jogos de bola… Depois do almoço, e o refeitório preparado para o jantar, temos o Terço e de seguida uns banhos de sol e água, na praia do "creiro" ou na de "alpertuche", mais conhecida entre nós, como a praia das "pedras"…
No regresso a higiene pessoal, jantar, tempo livre e deitar…
Este ano, estão alojados no segundo piso da casa, que além de generosas varandas, se pode apreciar a beleza natural e das águas límpidas do mar, a costa da Península de Tróia e Comporta, bem como o movimento de muitos "cargueiros" que passam ao longe, chegando e partindo do porto de Setúbal.
Hoje, ao acordar fui surpreendido com uma almejada notícia: O contentor preparado em Setúbal com destino a Malanje, tinha chegado à Casa do Gaiato, durante a madrugada. Que bom… às horas que estou a finalizar este texto, já a maior parte do mesmo, está descarregado e arrumado, consoante os produtos que foram enviados.
O muito obrigado a todos os que colaboraram na angariação desses bens, quer individual ou em grupo, sendo possível fazer chegar tantas "coisas boas" que vão suprir algumas das dificuldades que são vividas diariamente nas Casas de Angola. Um bem-haja do "fundo" do coração!…
Padre Fernando