SETÚBAL
Cegonhas
Nas paróquias onde andei a visitar as casas dos pobres, na companhia do novo pároco, encontrei as suas igrejas cobertas de ninhos de cegonha. Uma, tinha vinte e o padre, lastimoso, mostrava-me a fotografia dos telhados cobertos de palha e lama e desabafava: - Olhe, está a ver! É tudo muito bonito, mas quem se responsabiliza pela limpeza das coberturas das igrejas? Quem?
Na verdade, as cegonhas são aves muito bonitas e o seu voo majestoso enche os nossos olhos de admiração. É bom e agradável proteger estas aves, mas elas precisam de ser ajudadas a construírem os seus ninhos em pilares com plataformas altas e não sobrecarregarem as igrejas do povo humilde.
Não basta legislar, é preciso ir mais além para não se criarem injustiças.
O mesmo verifiquei, como já escrevi, quando na visita a pobres, com vicentinos, ouvimos as povoações a lamentarem-se que não podiam cultivar as suas hortas ou pequenas jeiras com nada, que os javalis comiam tudo. Estes são igualmente animais protegidos por lei. Mas quem sofre, e perde por esta protecção legal, são os pequeninos agricultores das aldeias, que vêem as suas culturas destruídas, por uma legalização injusta a favor das caçadas, constituídas por homens das cidades ou vilas que, de quando em vez, são autorizados a praticar este desporto de caça ao javali.
Uma flagrante injustiça.
Colheitas
Uma tremenda borrasca de granizo, caído em Julho passado, encarregou-se de nos dispensar a vindima, por ter deitado ao chão os cachos todos, as azeitonas das oliveiras, carregadinhas de fruto.
Este ano, nem vinho, nem azeite, nem azeitonas. Tudo a tempestade levou num princípio de tarde, sem que ninguém nos pudesse valer. A batata e a cebola produziram razoavelmente mas o feijão foi fraco e o milho então, foi mesmo pouco rentável. Não chegámos a encher os três silos quando, o ano passado, com estes a abarrotar, fomos obrigados a por o milho em monte no campo de futebol, acalcá-lo muito bem com o tractor e retro-escavadora e a cobri-lo de plástico, carregando-o com paletes e pneus.
As mudanças rápidas de temperatura e a abundância de ervas daninhas foram a principal causa do nosso prejuízo.
Padre Acílio