SETÚBAL
A venda do Jornal
O GAIATO é das poucas mensagens que levamos à cidade ou, melhor, à população citadina. Não existindo este instrumento, quase não seríamos conhecidos pelos setubalenses. Devemos esta comunicação à simpatia dos Párocos que nos deixam vender nas portas das igrejas e à boa e permanente aceitação do Auchan e do Intermaché que nos acolhem a vender à entrada e saída dos respectivos hipermercados.
O jornal não tem preço, mas os amigos dão sempre algum dinheiro para a ajuda da Casa do Gaiato. Os rapazes que vão vender, lidam com dinheiro e isto quer dizer convivem com algo que é sedutor e eles, os pequenos, sujeitam-se à tentação e podem cair nela, isto é, meterem algum dinheiro no seu próprio bolso.
Nós sabemos e nem por isso pensamos acabar com a venda por causa deste engodo; pelo contrário, é mesmo por ele, porque eles mexem no dinheiro dos jornais, se exercitam a dominar-se nas tentações onde podem cair.
Um dos vendedores foi acusado de tirar dinheiro da venda. Diante do acusador negou e defendeu-se. Não exerceu senão o seu direito. Seja como for cada um deve zelar por seu bom nome. Quem tira dinheiro que não é seu, chama-se ladrão. Os vendedores não têm esse nome. São rapazes sérios, da nossa confiança e do crédito dos nossos amigos.
Por ter a certeza e para o fortalecer contra o apetite que o dinheiro provoca, chamei-o a sós ao meu escritório e falei-lhe carinhosamente: diz-me lá meu querido, fala-me a verdade. É certo que tens tirado dinheiro da venda? É ou não? A resposta veio com um olhar fixo no meu, expressando mágoa e arrependimento. - É sim senhor!...
- Não voltes mais. O dinheiro é o desejo do diabo. Gostas de fazer a vontade ao diabo?
- Não senhor.
- Então filho, não faças, não te deixes ir no impulso do mafarrico. Ele tenta e tenta com força e a gente resiste e resiste com força.
Música
Tivemos, aqui, uma bandinha. Começou com 23 elementos e durante dois anos demos vários concertos chegando mesmo à Capital.
A saída de alguns rapazes, vários instrumentos ficaram mudos, sem tocar por não haver instrumentistas. Este facto deu-nos algumas lições: A música em nossa Casa precisa de uma aprendizagem contínua alargada a todos os rapazes. Não podemos ficar agarrados a uma banda. É preciso prever o futuro.
Primeiro solfejo e a seguir instrumento.
As férias do Natal passado foram preenchidas, da parte da manhã, com lições de solfejo e algumas de trompete.
Assana voltou a agarrar o saxofone e com uma trompetista alegrou a noite Santa.
É minha intenção voltar de novo à Humanitária de Palmela implorar o seu auxílio, pois instrumentos parados são instrumentos estragados.
Uma menina dos Olhos de Água há muito que desejava conviver com os pequenos. A mãe falou-me e eu aceitei logo. Todas as suas férias foram passadas a ensinar música, começando pelo solfejo, chegando ao instrumento da sua especialidade, o trompete. Cada rapaz que entra na Casa do Gaiato é obrigado a aprender música para que a banda, uma vez instalada, jamais acabe.
Padre Acílio