SETÚBAL

Tristeza

Foi para todos, aqui em casa, uma consternação, a morte das nossas ovelhinhas. Elas viviam num parque largo, destinada à criação de patos de cuja existência nos deixámos vencer, em virtude de serem atacados pelas gaivotas que os matavam e comiam sem darmos por isso.

Era curioso e inexplicável o facto de vermos nos telhados bandos enormes de gaivotas, no tempo em que o mar estava mais revolto.

Pensávamos que as aves marinhas vinham comer o alimento dado aos patos... quando viemos a averiguar, verificámos que elas vinham é comer os patos. Com o bico adunco e serrado matavam-nos e iam-nos comendo.

Contávamos ter uma centena destas aves e, afinal, já só estavam 27. Ainda pensei em desviar a rapinagem com fios de nylon transparentes e fortes para que elas batessem, no seu voo de aterragem, nos referidos fios, se ferissem e nos abandonassem. Entretanto uma pessoa amiga sentindo-se incapaz de tratar as suas ovelhas deu-nos 4 ou 5 e pusemo-las no parque dos patos.

Elas criaram e multiplicaram-se e o nosso rebanho era mais uma atracção para todos. Numa manhã de primavera soltaram-se, quando os rebentos das videiras começavam a brotar, e comeram-nos bem como os minúsculos cachos ainda em flor, mas ninguém se aborreceu! Toda a gente falava das ovelhas no diminutivo, eram as ovelhinhas.

Numa noite destas, dois cães de um vizinho entraram no parque, mataram-nas todas! Nem carneiros, nem ovelhas, nem borregos, nenhuma escapou. Os cães fizeram tal estrago que nada se aproveitou; os rapazes mais pequenos pareciam estar de luto, tal a tristeza que os invadia.

Explicações

Temos dois rapazes com provas dadas de que são capazes de fazer um curso superior. Após boas notas na Escola Profissional de Setúbal concorreram ao Politécnico na esperança de fazer o ano zero. Tal foi abolido e eles ficaram de fora. As razões não as sabemos só as advínhamos, pois não somos parvos.

Para entrarem no ensino superior terão de fazer exame a matemática e a Físico-Química.

Então? Como? Só com explicações que os habilitem aos exames poderão depois propor-se. Arranjamos-lhes uma explicadora que lhes dá 6 horas por semana. O resto virá do seu brio e empenhamento.

Não é a primeira vez que nos abalançamos a estas despesas, pois já as temos experimentado e com bastante lucro. Foi o que aconteceu com o Danilo. No décimo segundo ano ficou duas vezes mal a geometria descritiva, recebeu explicações durante um ano e, no exame, ganhou um 19 que lhe tem valido uma bolsa de estudos. Fez um curso superior sem custar quase nada à Casa do Gaiato.

Valeu bem o capital gasto nas explicações.

Padre Acílio