SETÚBAL

Encanto

Após o jantar, antes do agradecimento a Deus pela comida, o chefe nomeia rapazes encarregados de lavar a louça, chamados "os da copa", e os de limpar e pôr as mesas para o dia seguinte "os do refeitório".

Agora que estão de férias, o mais difícil é mudar as equipas, pois metade dos rapazes ou estão na Arrábida ou foram passar o mês de Agosto com os familiares.

Naquele princípio de noite, os indicados foram o Florentino e o Aníbal. Este é muito molengão, ao contrário do Florentino.

A esta hora, após a refeição, fico sempre na sala quer para impor paz à rapaziada, corrigir algo que esteja menos bem e receber os rapazes nas suas necessidades.

Começaram os trabalhos do refeitório e que vejo eu? O Florentino a limpar as mesas com o pano numa mão e um pequeno alguidar na outra e, atrás dele, o seu mano Adão a lavar as mesas, também com iguais ferramentas embora seu alguidar traga água com lixívia.

Um espectáculo de alta fraternidade que muito me encantou, pois ninguém havia mandado o mais novo, senão brincar. Pequenino, franzino, com 7 anos, aquilo é que era desembaraço e alegria a olhar para o irmão.

Desilusão

Devo confessar aos meus leitores, sobretudo aos que se alegraram comigo por esse Portugal além, quando dei a notícia de que tinha ao meu lado um sacerdote que carregaria comigo a minha cruz, tornando-a mais doce no meu fim. Pois bem, o meu optimismo foi sol de pouca dura...

Vocações para a Obra não surgem na Igreja de hoje, muito instalada e a viver em cálculos mundanos, se não houver um conhecimento do valor aliciante da pobreza, não do seu voto, mas na vida real de cada um. A pobreza é o grande argumento do Evangelho, a pregação mais forte que atrai os corações descrentes. É urgente pregá-la, sobretudo nos Seminários, onde encontramos, hoje, homens feitos, a pretender seguir Cristo.

Padre Acílio