SETÚBAL

Peço uma mãe

Sigo o conselho do Mestre: - Procurai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Quem procura encontra.

Não é qualquer senhora, mas alguém com vocação maternal, com ânsia de se dar aos que não têm mãe. Não é uma funcionária, uma técnica, mas uma mulher que ame, a sério, os mais pequeninos, os quais, quando crescerem, lhe chamarão mãe e ensinarão os seus filhos a tratarem-na por avó. É um caminho de família, uma vida realizada, a resposta a um apelo do Senhor. O reino dos céus à vista - eu não tinha mãe e tu, tu, tu foste a minha mãe.

Bicicletas

Num dia destes, encontrei, abandonada no parapeito de fora do comprido corredor, uma enciclopédia de animais. Um livro caro, muito atractivo e bonito. Peguei nele, folheei-o e disse para comigo tenho de saber quem tirou este livro da prateleira e depois o abandonou desta forma.

À noite, após o jantar, pego no volume e mostrei-o a todos os rapazes, perguntando quem o tinha assim esquecido. Acusaram-se dois que estiveram a ler e o deixaram onde o encontrei, que também o tinham visto no mesmo lugar mais ou menos no mesmo sítio!

- Então quem o tirou da prateleira e levou para o banco do corredor?

Foi fulano? Foi sicrano? Nada. Ninguém foi.

O livro tem muito valor. É muito útil para todos, não pode ser tratado assim... etc., etc.. Gastei o meu latim a enaltecer o livro, a rebaixar a acção do abandono e a pedir que alguém se acusasse: - Fui eu. Mas nada. Mas qual quê, ninguém se denunciava.

Elogiei os que são capazes de assumir o mal que fazem. Que aquilo podia ter sido um esquecimento, um descuido compreensível por qualquer um... nada...

Ameacei com castigo geral, mas não resultou.

- Então ficamos assim: não haverá bicicletas para ninguém enquanto não soubermos quem tirou o livro da prateleira.

Foi um castigo duro. Severo, sobretudo para mim que gosto tanto de os ver pedalar pelas calçadas do jardim, por toda quinta e na estrada municipal à volta dela sem trânsito nenhum.

O Rafael que tem sido chefe, veio na sexta-feira à noite, após o jantar, ter comigo: - Sepadacilio não pode levantar o castigo das bicicletas? Passamos já um fim-de-semana sem elas. Veja se pode levantar o castigo!...

Consolou-me tanto o pedido do rapaz que não resisti: - Tá bem, pronto... andem lá.

Padre Acílio