SETÚBAL
Contentores para Malanje
Afinal, não foi só um contentor que mandámos para Malanje, foram dois - e dos maiores - de quarenta pés cada.
No primeiro, não pudemos meter todo o material necessário para a rega dos vinte hectares, como foi planeado. Esse, levou parte da tubagem, e o segundo, o restante mais uma quantidade enorme de torneiras e oitenta tubos que o primeiro estudo não previa.
O Padre Rafael aproveitou o transporte para pedir mais quatorze pneus para tractores e máquinas, uma bomba para lubrificar tractores e massa consistente. Aproveitámos, também, para mandar mais roupa, material escolar, livros, uma tonelada de cadernos e mobiliário.
Lamento que o Padre Rafael tenha falado tão pouco destes bens que tanto custaram a esta Casa.
Cerejas
EU nunca tinha comido frutos de comparável sabor. Um cesto delas foi-me enviado pelo Zé Reis, como fruto-rei da sua terra, com uma cartinha que eu perdi e tanto gostava de publicar!...
Começava assim: De um Gaiato para um Pai Gaiato.
O Zé tem uma história que andou no anonimato das colunas do Público, pela pena da Dr.ª Filomena Mónica, onde ela se queixava de muitas faltas, sobretudo do Estado, a cujos organismos se dirigiu, durante dois anos, sem conseguir nada.
Falou depois com a Dr.ª Zita Seabra que me transmitiu o pedido, garantindo-lhe que iria ver o caso no dia seguinte. E fui.
O Zé vivia numa barraquinha de madeira, arredada da povoação, com a sua mãe surda e muda. Trouxe-o logo comigo, deixando a sua mãe arrasada em lágrimas, mas condescendente.
O Zé já tinha abandonado a escola no sexto ano por lá o tratarem por filho da p..., voltou à escola na nossa Casa e nunca mais perdeu ano nenhum até ao final do Curso Superior. A sua carta para mim, espelha, sobretudo, muita gratidão. Hoje, pode dar mão à sua mãe e arrancá-la daquele ambiente que a inferioriza.
Actualmente, trabalha num hotel em Lisboa, onde encontrou um casal setubalense, que se prontificou a trazer-me as cerejas.
Diz que o patrão o quer fazer líder. Não me admira. Sempre foi líder por onde andou.
As cerejas souberam-me a torrões de açúcar, mas a carta calou fundo. Tenho pena de a ter perdido.
O Zé Reis é o tipo de homem que a Obra faz contra toda a lógica oficial e que, fora dela, pela Obra da Rua, se faz um homem que pisa forte na vida.
Ainda no Porto, apareceu uma família, que a título que protecção, ia estragando a vida ao Zé, mas a razão venceu.
Hoje, todos bendizemos a Deus, pelo homem que se recuperou e se perderia nas funduras da Serra da Estrela e na profundidade tacanha da realidade rural.
Padre Acílio