SETÚBAL
No nosso Natal
Foi intensamente vivida a quadra festiva nesta Casa.
Ensaiámos duas peças de teatro, sendo uma delas um auto de Natal. No primeiro dia de férias, logo se queixaram os rapazes, que em vez de ensaiarmos, os mandara arrancar as ervas do couval.
— Pois, manda-nos para as couves quando nos devia mandar para os ensaios.
Eu ainda nem tinha escolhido o tema, nem as peças, quanto mais ensaiá-las. Esta gente, na sua adolescência, pensa que tudo é fácil, quando se trata dos meus deveres.
Apanhei dois que andavam mais arredios da minha pessoa e dei-lhes os papéis mais longos e mais difíceis, no intuito de os obrigar a um convívio mais próximo de mim, facto que resultou bem e nos encheu de alegria comum.
Fez de menino Jesus a mais pequenina filha da Janete e ela de nossa Senhora, acompanhada do Alberi que encarnou o papel de S. José, tanto no auto do Natal como na Missa do Galo.
Beijámos uma menina de carne viva, imagem do Deus nascido, e não uma figura de barro.
A ternura do Menino tornou-se mais intensa, e a mãe gozou com o beijo da assembleia à sua pequenina a dormir nos próprios braços!
Há anos que trazemos à nossa ceia de Natal uma família pobre e um dos seus filhos mais pequenos faz de menino Jesus. Assim o nosso Natal torna-se mais evangélico, confirmado pelo desejo do Papa Francisco.
Empresários
Uma associação de empresários do Distrito de Setúbal fez, na nossa sala de jantar, a sua reunião habitual.
Eram férias natalícias e, nesses dias, o sino para levantar da cama tocava às 8:00 horas da manhã, mas eles começaram a sua assembleia às 7:00 horas.
Quiseram, depois, tomar connosco o pequeno-almoço enriquecendo-o com pão quente, sanduiches de fiambre e muitos bolos.
Era seu desejo que os nossos rapazes participassem do colóquio e observassem como se ajudam, como lutam pelas suas empresas pesquisando os melhores e mais rentáveis métodos.
Os nossos rapazes mais velhos ainda não tinham terminado as aulas e outros foram para o trabalho logo de manhãzinha. Os mais jovens ainda não percebem, nem se deixam prender por assuntos desta natureza, mas ficou para todos a lição: Gente de trabalho, de organização e de esforço!
Amargura
Pai Américo, seduzido pelo Evangelho que ele apelidava de único livro a ser seguido pela sua experiência e amor aos pobres, criou uma Obra de Rapazes, para Rapazes e pelos Rapazes, de acordo com a natureza do homem iluminado pela Luz de Cristo, com a pedagogia mais avançada da época e sempre actual.
Este método foi objecto de várias teses de doutoramento, como os nossos amigos sabem através das publicações feitas.
Esta Obra só se levanta com o espírito de família e uma abnegação total de quem preside.
Pai Américo explicava isto de maneira simples: comemos à mesa com os rapazes como os pais fazem com os filhos. Não temos casa, nem ordenado, nem família, nem amigos nem nada. Os rapazes são a nossa família.
No fim da Conferência, um senhor de destaque na Igreja, atreveu-se a dizer que o método educativo do Padre Américo estava ultrapassado.
Perguntámos: — O senhor conviveu tanto com as Casas do Gaiato e chegou a esta conclusão ou nunca conheceu nenhuma, senão aquela à qual chama Casa do Gaiato, porque lhe convém o nome, sem ela o ser?
É de bom senso que a gente quando não conhece, confesse a sua ignorância e não se valha do poleiro para impor sabedoria.
Padre Acílio