SETÚBAL

Visitas

Esta proximidade do Natal ainda nos traz algumas visitas: pessoas que se sentem obrigadas a partilhar os seus bens connosco. Filhos a lembrar os pais falecidos. Viúvas a evocar os maridos. É uma peregrinação de Natal que nos traz algum alívio.

Vêm, do mesmo modo, multidões de pobres, à espera de um avio para o Natal. Quartas, quintas e sextas-feiras começam logo de manhã e aumentam-se à tarde, após o almoço. Vale-nos o que nos dão.

Apareceu também uma senhora e um homem, não perguntei se eram irmãos ou casados, a pedir ajuda para um familiar epiléptico, de 63 anos, que o Estado mandou recolher em Caxias, na prisão, por não haver lugar seguro para ele em qualquer lado.

Apeteceu-me mandá-los à Segurança Social do Porto, tão solícita com os nossos doentes do Calvário... Tratados pelas senhoras doutoras como se fossem gado que muda de um estábulo para o outro. Pior ainda que gado. Os animais têm de levar uma guia assinada pelo detentor e pelo receptor... Ali, não... nem sequer o processo clínico dos doentes. Foi chegar... E isto é tudo nosso.

Em questão de Assistência, o Estado mostrou-se uma desgraça arrogante, sem consciência, nem vergonha.


Partidas

Já aqui relatei uma destas brincadeiras que os pequenos fazem à Senhora que os aconchega ao deitar.

De uma vez por outra, a D. Conceição sobe com eles as escadas para a casa-Mãe, onde dormem.

Normalmente, quem os vigia no banho, na lavagem dos dentes e desinfecção da boca, é o Roni, que dorme num quarto ao lado deles! Mas quando este não está, e mesmo com ele, a Senhora sobe as escadas, eles adiantam-se e escondem-se de modo que, quando a vigilante chega à porta e não os vê, grita em voz alta e aflita: - Ai!, onde estão os meus meninos?

Aparecem logo, numa risada delirante, a abraçá-la, convencidos que lhe pregaram uma grande desfeita.

É só a Senhora acompanhá-los. Não se esquecem. Em gritos infantis de alegria sobem as escadas e escondem-se, à espera daquele carinho maternal e gozoso: "Ai!, onde estão os meus meninos."

Padre Acílio