SETÚBAL
É próprio das Casas do Gaiato rodearem-se de elementos vivos e encantadores.
O romantismo das plantas, das árvores, das sementeiras e colheitas, até a presença próxima dos animais domésticos e de gado diverso, tudo influi a sensibilidade dos rapazes, ajuda a sublimar e a amadurecer os seus sentimentos.
Se publicássemos, como alguns, os nascimentos das vitelinas e vitelos, encheríamos o Jornal todas as quinzenas. Não o fazemos, mas são raras as semanas que não tragam à luz do dia duas ou três novas criaturas das nossas vaquinhas! Os bacorinhos, as ninhadas a mamar nas porcas sob o sussurro prazenteiro das marrãs e as galinhas mais os patos rodeadas de pequeninas crias, são outras novidades desta quinta pedagógica!
Quantas famílias vêm a nossa Casa com seus filhos ainda pequenos para verem as vaquinhas e os vitelinos, os coelhos e a passarada. É muito raro o fim-de-semana que as visitas infantis não se acerquem de nós, na alegria de presenciarem e tocarem de perto os nossos animais!
Fomos, há dias, buscar um carneiro e uma ovelha a casa de uns amigos que os não podiam cuidar, por ele ter sofrido um AVC muito forte que o derrubou completamente.
A carinhosa esposa resolveu dar-nos muitas galinhas e os dois lanígeros.
Logo no outro dia de manhã, Monchique, preocupado, veio perguntar se lhes podia dar liberdade de comerem as ervas do pomar!
— Põe homem, os animais estão habituados a andar à solta. — O rapaz assim fez mas a ovelhinha desapareceu.
Bita veio protestar: - Põem os animais à solta e agora não sabem da ovelha.
Monchique, preocupado, procurou, procurou, até que deu com o bicho escondido num canto do alpendre onde se guardam as alfaias agrícolas, dando mama a dois cordeirinhos. Esfuziante de alegria veio contar a descoberta:
— A ovelha já pariu e tem uma borreguinha e um cordeiro.
— Guarda-os bem -, recomendei-lhe. — Olha que se os pequenos o descobrem põem-nos ao pescoço e podem matá-los.
Como a escola começa de manhã e eles só regressam ao cair da noite, ainda não os viram, mas estas crias vão ser um elemento importante para darem vida ao presépio que faremos no próximo Natal, enfeitando então o pescoço dos pastorinhos, apressados na noite Santa a saudar o Menino.
Há bastantes anos que não temos ovelhas. O rebanho chegou a oitenta, mas como cultivávamos arroz os terrenos ficavam encharcados com covas de água aqui e além, as ovelhas bebiam qualquer água, adoeceram e fomos obrigados a vendê-las.
Agora não será o princípio de outro rebanho, apenas mais um elemento decorativo da nossa vida!
Padre Acílio