SETÚBAL
Contentor para Malanje
Ninguém pense que o contentor para a Casa do Gaiato de Malanje, em Angola, vai abafar a minha preocupação com a conduta de Moçambique. Não senhor!
Aguardamos simplesmente a resolução de quem está no terreno, que terá de decidir e nos dar ordens! O contentor para Malanje só tem a ver com a fraca e escassa alimentação dos gaiatos daquela Casa.
Já paguei um quilómetro de arame farpado em concertina, para o Pe. Rafael fixar em cima do nosso muro, evitando o mais possível a ladroagem. Tenho esperança de arranjar os 3000 kg de leite em pó. A encomenda das carnes e das conservas está feita e vai sendo paga com as sacrificadas dádivas que me vão chegando.
O padre da rua é, por natureza, um educador social!... Dar... Podemos dar... Dar a quem sofre... Permitir que se roube, por que os ladrões morrem de fome, não. Dar, dar, dar... Dar permanentemente nunca permitir o roubo.
Segundo nos consta, é verdade que os grandes se apoderaram da riqueza do País, deixando o povo à míngua, sem qualquer remorso. No entanto, é nossa missão educar. Todo nosso empenho está na educação, primeiro em nós próprios, na esteira d'Aquele que não teve uma pedra para reclinar a cabeça, depois os rapazes que nos são confiados e, a seguir, os pobres mais próximos! Temos de ser firmes, como a rocha que é Jesus Cristo! Cheio de Misericórdia e brilhante de Justiça.
Férias
Ainda continuamos em férias escolares, mas em Casa, com horário benigno, aproveitando normalmente a nossa piscina, em dias de calor, duas vezes por dia, antes do almoço e antes do jantar.
Os pobres não cessam de nos bater à porta, nós cultivamos para nós e para eles.
Metade do cebolal foi apanhado e guardado à sombra, para que o caule seque, para se arrumar. O feijão está todo limpo e ensacado. Dá para o ano inteiro. O milho apresenta-se um milhão enorme, já chega aos espalhadores de rega dos pivôs, enfeitado, cada planta, com duas ou três espigas. Será o reforço alimentar das nossas vacas leiteiras. As oliveiras voltaram a carregar e as laranjeiras vergam-se derreadas de fruta. Os figos são uma delícia. Temos vendido alguns.
Toda a criação da nossa quinta entoa um canto de louvor a Deus nosso Pai que dá, na Natureza, aos filhos que trabalham, o fruto do seu poder criador.
A nossa vinha sofreu muito com aqueles quatro dias de calor intenso e muitos cachos foram queimados, apesar das cepas serem regadas.
Falta-nos ainda colher metade do cebolal. Esperamos que as cebolas amadureçam e os caules verdes sequem um pouco mais.
Dois rapazes foram passar uns dias com a família. Voltaram e, passados dias, fugiram. Esta tragédia é também fruto de quem governa as crianças jovens com leis gerais inadaptadas a certos casos. Normalmente, os familiares vivem em bairros degradados e as companhias destroem o que demos de bom aos adolescentes! É a nossa dor! Nós, que depois de um longo curso de humanidades, passamos a vida a educar, somos considerados uns ignorantes perante a imaturidade de alguns magistrados.
Padre Acílio