SETÚBAL

Na passagem por esta Casa, há poucos meses, senti-me fortemente abalado pelo desabafo do Padre Rafael: - Nós, lá, agora, só comemos feijão e arroz ao meio dia, ao jantar e ao outro dia a mesma coisa, e assim toda semana.

Para um europeu a vida em África é sempre dura, muito dura. Difícil sobretudo para quem tem de dar de comer a 107 filhos - Rapazes da Casa do Gaiato de Malanje - e alimentação sem variar. Carne ou peixe é tudo muito caro!

Malanje situa-se no centro de Angola a mais de 400 Km de Luanda.

Esta Casa tem gado, sobretudo gado bovino, mas a economia caseira não permite matá-lo para comer. É todo para vender, segundo chorou o Padre Rafael: - Só temos dinheiro para salários e comprar arroz e feijão.

Embora a Casa seja vedada por um muro, a ladroagem é tal que nem a horta se pode ali cultivar. - O que nos vale é a karianga -, exclamou o Padre Rafael.

O mesmo Padre diz, no penúltimo O GAIATO, que tirou do sótão das suas lembranças os seus primeiros anos de sacerdócio. Bem gostei de explorar esse depósito, mas acho melhor que, em vez de memórias passadas, nos conte a realidade viva, para sermos mais a chorar.

Como a karianga é terra boa e tem água com abundância, iremos ter oportunidade de aliviar o seu fardo. O que lhe falta são alfaias agrícolas, pois semear milho à mão e colhê-lo da mesma forma, sem qualquer rega, é pôr dinheiro na rua. Mais vale comprá-lo do que cultivar.

Já encomendei um semeador de milho de quatro linhas, um sachador de três, um corta milhos de uma e uma corta forragens, com todos os sobressalentes de maior gasto para cada alfaia. Mais: vou mandar todo material necessário para regar 20 hectares de terra, para que possa fazer as culturas necessárias ao longo do ano, para vencer a fome.

Agora mandarei leite em pó, três toneladas, uma tonelada de atum em conserva e meia de salsichas, meia de chouriço, meia de almôndegas.

Espero que, com estas canas, pesquem todo o peixe necessário a uma alimentação variada.

Mando esta nota para que alguém me ajude.

Padre Acílio