SETÚBAL

André é um adolescente a quem faltou o colo da sua mãe.

Vivo, inteligente, mas ANDRÉ é um adolescente a quem faltou o colo da sua mãe.

Vivo, inteligente, mas sob o ponto de vista afectivo, marcado por esta deficiência. Em linguagem do povo, um cabeça no ar.

Há dias contemplei-o a brincar com o cão no jardim.

Era o fim da tarde e as sombras da casa já tapavam o sol baixo.

A relva do jardim verde e viçosa era o palco daquele encantador espetáculo. André enganava o cão com os seus trejeitos e o animal fazia uma roda a correr por cima da relva enquanto o rapaz se desfazia em risos. Voltava de novo com a mesma macaquice e o cão espavorido e contente corria ao contrário!... Isto muitas vezes.

O rapaz gritava e o cão gania numa expressão de prazer que a ambos satisfazia. Parecia-me que o cão e todo choque da natureza desta Casa a pouco-e-pouco preencherá o vazio de que o André sofre.

Temos, além de uma variedade larga de animais, cinco cães.

Quando os rapazes chegam das aulas, no autocarro, esperam-nos sempre a nossa matilha. Normalmente cada cão tem o seu rapaz preferido e as festas mútuas repetem-se incessantemente.

Como lhes faz bem brincar com os animais, saboreando o domínio sobre eles e, ao mesmo tempo, a inocência da criatura simples e sadia.

É a natureza pura a transformar, nestas relações, o desequilíbrio humano.

Isto só na Casa do Gaiato.

SILAGEM

Acabámos, no sábado, de cortar e ensilar o nosso azevém.

Este ano fizemos apenas dois cortes, embora o ano passado tenhamos feito três, mas isso atirou-nos com a sementeira do milho, na mesma terra, para muito tarde. Cada corte custa-nos mais de 2500 euros, além do nosso trabalho intenso e do gasto das nossas máquinas.

Os silos são o celeiro do gado.

Com o azevém, este ano, misturáramos luzerna para enriquecer o penso dos animais: vacas leiteiras, novilhas e bezerras.

Quando pelas seis da tarde um antigo conviva me veio encontrar apoiado nas bordas de um carro de mão, o olhar dele dirigiu-se para a cobertura do silo acabada por cinco rapazes e diz muito admirado: A minha, mulher é psicóloga numa casa de rapazes do Estado mas, lá, não se vê isto. Que beleza!...

Os olhos do visitante brilhavam de alegria como estrelas em noite escura e não se cansava de repetir: Que beleza!...

Padre Acílio