SETÚBAL
Natal
Não me lembro de ter visto os rapazes tão metidos na azáfama do Natal. Ou porque as férias eram curtas ou porque não tínhamos ensaiado nada, a verdade é que os rapazes se agarraram todos a preparar o espectáculo, a enfeitar a Casa e a preparar as refeições. A parte séria do espectáculo esteve a meu cargo: a ensaiar cinco deles que nos mostraram a história do presépio, declamando pausadamente, do princípio ao fim, e os seus melhores autores artísticos através dos tempos.
De viva voz, dizendo as palavras, sílaba-a-sílaba, os rapazes tomaram consciência da sua capacidade de falar em público; e os outros, ouvindo-os, também aprenderam. O fundo da história tinha as figuras vivas do presépio de que falamos no Património dos Pobres. Os rapazes dançaram, riram e fizeram rir, numa comédia interessantíssima, divertindo-se em inocentes e francas gargalhadas, apresentando-se como bons actores e artistas -tomando consciência das suas próprias capacidades. Foi uma noite de Natal vivida- a sério - no salão de festas, na sala de jantar e na Capela.
A distribuição das prendas, já de madrugada, foi, como é natural para eles, um dos melhores momentos. Alguns, meteram logo a mão aos sacos, levantando as lembranças à altura dos olhos, para se deleitarem na sua miragem e mostrar aos outros, num gozo inocente, feliz e competitivo.
Actividades várias
Nunca como este ano, tivemos tantas e tão boas couves.
Ali por fins de Setembro, pedimos às senhoras que nos dão alface todo o ano, que encomendassem, para nós, doze paletes de plantas de couve de cortar, tronchudas e brócolos.
As senhoras mandaram-nas vir por um preço mais baixo, por serem clientes fortes, e depois ofereceram-no-las. As duas irmãs pagaram do seu bolso as referidas plantinhas. A terra é macia e consumiu uma grande camada de estrume. Não levaram adubo químico nenhum, mas só o natural, e a hortaliça cresceu e está linda e tenrinha que é uma delícia.
O nosso pomar há tempos que luta com uma doença chamada lagarta mineira a qual devora as folhas e seca os ramos, dando aos citrinos um aspecto desolador e é mesmo capaz de os matar. O combate a esta doença tem sido feito sem qualquer insecticida, mas manualmente, podando os ramos secos e retirando-os para longe das árvores.
É uma acção que diverte os rapazes e lhes transmite instintivamente noções de equilíbrio ecológico. Os ramos podados serão imediatamente removidos de ao pé das árvores para não continuarem a contaminação.
Há um ano e meio nasceram muitos bacorinhos que agora se transformaram em porcos enormes. Os alimentos que os nutrem são naturais e uma grande quantidade é produzida na nossa quinta, como várias ervas, beterraba, abóbora, couve, nabos e cenouras; e outra que vem do Jumbo o qual diariamente nos oferece o que retira das bancas: frutas, hortaliças, pão, etc.. Alguma que ainda esteja boa, escolhemo-la para nós e para darmos aos pobres, a outra menos boa é para os animais e a estragada vai para a estrumeira.
Padre Acílio