POSTO FORA

Quando pomos alguém fora do nosso convívio, não podemos esperar que venha ele depois, por sua iniciativa, intervir em nosso favor em alguma situação difícil em que nos encontremos metidos, inesperadamente. Até podia ser que esse alguém tivesse poder e conhecimento privilegiado para nos ajudar a sair dessa dita situação, mas como o repudiamos do nosso convívio, orgulhosamente perdemos a sua preciosa colaboração. Isso acontece muitas vezes.

Foi num momento em que pensávamos que, sendo-nos tudo favorável, estava nas nossas mãos pôr e dispor da nossa vida a nosso belo prazer e conveniência. Cada vez mais cheios de nós, começámos a tratar os outros como objectos, como peças de xadrez com quem jogávamos segundo os nossos interesses. Não percebemos como tão insensatos estávamos a ser: Tão frágeis que, de facto, somos ou tão facilmente fragilizados por outros mais fortes, estamos sempre na iminência de uma rasteira nos entrelaçar os pés e fazer-nos estatelar no chão.

Pois isso mesmo aconteceu. Tínhamos um Amigo, que vaidosamente passámos a ignorar. Sendo Ele invisível, fomo-nos afastando d'Ele, até ao ponto de n'Ele deixarmos de acreditar. Passámos a conviver só com aquilo que as nossas mãos produziam.

Esquecemo-nos que a nossa vida se desenrola no meio de seres invisíveis: uns amigos, outros inimigos. Pois, alguns destes últimos, aproveitando o facto de termos posto fora do nosso convívio o Ser invisível que está sempre pronto a ajudar-nos, pois nunca Se esquece que foi Ele que nos criou, aproveitaram termos a casa limpa e varrida para entrarem nela e fazerem as suas tropelias, da qual a maior é matar. É o que estes seres mais gostam de fazer. E, ainda por cima, num momento em que, também muitos de nós, tinham aderido à mesma lei, matar, à qual uns simpaticamente deram o nome de "morte assistida" e outros de eutanásia. Já antes, haviam dado poder de lei a outra realidade semelhante, não deixando que milhares de crianças nascessem. Juntou-se, assim, o útil ao agradável para estes seres invisíveis, malignos.

E agora, o que fazer?

Este comportamento já é quase tão velho quanto a idade da humanidade. O caminho a seguir, para repor o convívio com quem é por nós, é sempre o mesmo: Humildade, escancarar as portas do coração para acolhermos o perdão do nosso Amigo, o nosso melhor e maior Amigo que fora posto fora, para que venha sanar um problema que criámos: Posto fora por nós, venha agora ajudar-nos a pôr fora aqueles outros seres invisíveis que nos colocaram nesta difícil situação.

Padre Júlio