POBRES

A renda de casa é talvez a maior aflição na vida de muitos Pobres. O preço actual das rendas é-lhes incomportável, neste bem essencial e alicerce da vida.

Nestes últimos tempos tivemos várias situações, algumas que muito nos inquietaram, às quais demos a mão. Aquela mãe que tem a sua filha adolescente em tratamento no IPO, cujo pai está a léguas dos problemas de ambas e do filho, também adolescente, viu-se mais uma vez posta fora de casa, devido aos três meses de renda em atraso. Desta vez saiu para casa de uma amiga que a acolheu por algumas horas na esperança de nós ajudarmos a reabrir a porta fechada pelo senhorio. Este, delegou em alguém a cobrança das rendas, a todo o custo.

É certo que o valor das rendas é muito alto para quem não dispõe de rendimentos que as cubram. Que fazer se não conseguem outra habitação por preço que lhes seja acessível? Muitos procuram uma habitação social, mas as que existem e são faladas antes de existirem, não chegam para todas as necessidades.

Nós, por aqui, vamos dando a mão a carentes de habitação, vindos de longe, para que não fiquem na rua, cedendo-lhes quartos previstos para outros fins, sem perturbarem a vida da Casa, esperando que, com esta ajuda, melhorem as suas vidas.

Outro Pobre, também com três meses de renda em atraso e em tratamento hospitalar diário, pediu e recebeu ajuda para ficar tranquilo em sua casa, ele que já há muito tempo não batia à nossa porta. As palavras desmesuradas que usou para nos agradecer revelaram o seu contentamento e satisfação por o termos atendido.

Com muitas outras situações nos deparamos, em carências de habitação. Ficamos incrédulos quanto a melhoras deste problema no futuro, pela desproporção entre o seu custo e a capacidade de o pagar por muitas pessoas que assim caem numa vida sem esperança.

Todos somos chamados a dar a mão «na sua pequenina esfera de acção», como deixou dito Pai Américo, pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua vida?

Padre Júlio