POBRES

Era quase noite. Depois de algumas sms uma chamada: «Senhor padre, estou com o meu filho no banco do jardim e não posso entrar em casa!» A fechadura tinha sido mudada. Eram dois meses de renda em atraso. A dívida ultrapassa os mil euros, o que, para eles é incomportável. Ultimamente ficou sem possibilidades de trabalhar, pois tem de acompanhar a filha, menor, internada em oncologia. Aguarda por um subsídio, que, acredita, virá no próximo mês. Uma transferência bancária abriu-lhes de novo a porta de casa, mas se o subsídio não vier, voltará a aflição.

As rendas de casa são uma exorbitância, para quem tenha de pagar, pelo menos, metade do seu ordenado. Todos os meses a mesma aflição para quem está nestas circunstâncias.

Repetidamente várias famílias batem à nossa porta, que, justificadamente, tem de se abrir. Outras rendas há que seriam facilmente comportáveis, mas, ainda assim, há quem não consiga cumprir o compromisso.

Outra Pobre com problemas semelhantes: filha menor internada em oncologia, e ela, mãe, a quem não têm faltado, também, vários problemas de saúde, cabe-lhe acompanhar a filha em parte do dia. Com algumas falhas no salário, o marido é quem angaria o sustento da casa, por isso tantas vezes insuficiente. Duas, três ou quatro vezes ao ano liga-nos, a apresentar as dificuldades que não conseguem resolver sozinhos. Uma vez por outra vamos visitá-los, e damos-lhes a mão para podermos todos respirar.

Padre Júlio