POBRES

É uma mãe com dois filhos adolescentes, que recentemente viu a sua vida complicar-se. Quando aparece uma doença nós concluímos que a vida se complica. Se a doença é grave, acentua-se.

Tendo que acompanhar a filha nos tratamentos hospitalares, ficou mais limitada para ganhar o necessário. Em risco de perder a casa, com rendas em atraso, voltou a falar-nos passado um ano, quando um problema em tribunal havíamos ajudado a resolver.

Agora o senhorio pressionava-a e ameaçava. Quando se viu na iminência de perder a casa recorreu a nós, e, aflita, pediu ajuda.

Não estávamos a par da doença da filha, mas depressa compreendemos as razões da sua aflição.

Apesar de tanta injustiça levianamente cometida, há muitos heróis, mártires e santos anónimos, parafraseando Pai Américo. As condições materiais são melhores que no seu tempo, mas muitas vezes inacessíveis ou difíceis de alcançar.

A vida em família é difícil para muitos. Certamente que a insuficiente preparação contribui para os desenlaces. Mas ainda haverá quem a deseje ou deixa-se tudo ao acaso das circunstâncias futuras?

Se a família colapsa, os seus membros são os primeiros a sofrer os efeitos, embora de modo diferente. Corrigir e recuperar esta anomalia, familiar e social, será alcançável?

A doença, especialmente quando grave, é o mais difícil de suportar porque aponta para o sofrimento e o final da vida. Entram em jogo, nesse estado, os fundamentos onde se alicerça a vida. Encarar a doença com esperança, apesar da possibilidade imprevista de a vida se abreviar, pede mais que a capacidade humana natural. Faz apelo à fé.

Esta jovem «muito dependente de ajuda para tudo e para comer, não tem força para caminhar» e outras dificuldades, é um apelo a maior seriedade na vida. A sua dor, como a de muitos outros e outras, não pode ser olhada como uma fatalidade. É um apelo à responsabilidade de cada um, na forma como vive.

Padre Júlio