POBRES

Alguém de Casa me ligou a dizer que tinha dois homens, ainda jovens, à minha espera, que queriam falar comigo. Pedi para esperarem.

Eram de S. Tomé e Príncipe. Haviam estado a trabalhar nas obras, mas tiveram que deixar porque não eram tidos com o tratamento devido. Estavam documentados para poderem residir e trabalhar por cá. Faltava-lhes alojamento, e alguém lhes falara do nossa Casa onde poderiam encontrar ajuda. O tempo estava chuvoso, e arriscavam ter de pernoitar na rua, com aquela chuva persistente.

Falamos dos seus propósitos e pouco do seu passado. Era importante dar-lhes a mão, dar-lhes quarto onde pudessem dormir, para começarem novo trabalho no dia seguinte. Nas obras não falta trabalho, presentemente, bem pelo contrário.

No dia seguinte, era cedo e eles foram tratar das suas vidas.

Continuamos a tirar gente da rua ou a evitar que nela caiam, não já os rapazes como antigamente, porque estes são do Estado. Do estado daqueles, e são muitos, poucos se doem e ajudam.

É assim que, pelas pessoas nesta situação que temos intra-muros, duas das casas da nossa Aldeia ficaram preenchidas, elas que eram para alojamento das nossas visitas e agora estão ocupadas por visitantes de passagem, em dificuldade.

Há dois anos foi uma mãe com suas cinco filhas que nos procurou, quando estava na iminência de ser despejada. Alguns meses que estiveram na nossa Casa, deram-lhes tempo para refazerem a vida. Entretanto, já um casal que recebêramos algum tempo antes, ocupara parte do edifício, que muito me impressionou quando cá chegaram, pelo estado de doença da senhora.

Por fora também vamos dando a mão. A uma mãe solteira que agora já vê o seu filho crescido, e que passou pelas mãos da angústia quando este era bebé, sucedeu outra em situação semelhante, e que com pequenos auxílios mensais encontraram motivos para se animarem. São crianças para quem nos pediram acolhimento, mas a quem estes auxílios renderam mais desta maneira, em favor da vida das mães e dos filhos.

Tudo é fruto de uma sementeira com bom rendimento, que só necessita de confiança e algumas dores que nascem da fraqueza humana.

Padre Júlio