POBRES

De longe a longe aparece por cá. Já nos conhecemos, por isso, há vários anos. A doença impede-o de ter um trabalho certo. Quando pode vai fazendo uns trabalhos para o ajudarem a subsistir.

Já passou connosco uma noite de Natal, sentado à nossa mesa, e acabou também por dormir. Sempre pergunta se temos algum trabalho para fazer.

Desta vez trouxe-o a necessidade de comprar uma vacina contra a meningite para uma sobrinha de três meses. Vive com a irmã, mãe da bebé, que o acolheu em sua casa, também ela pobre, ajudando assim a família e tornando a sua presença mais desejada. Perguntei-lhe se o pai da criança não trabalhava. Sussurrou que estava preso.

Munido já da requisição para a farmácia, lembrou-se de uma factura da electricidade que trazia consigo. Da última vez tinha sido o pároco de freguesia vizinha que o ajudara. Esta, que desdobrava e guardamos para liquidar, estava a três dias de chegar à data limite de pagamento.

São algumas as pessoas a viver em situações semelhantes que vão passando por cá esporadicamente. Em todos o mesmo denominador comum: a doença, especialmente a esquizofrenia, embora em graus diferentes.

Em tempos passados, os portadores desta doença, eram sujeitas a longos internamentos e a rejeição social. Hoje, mudou um pouco a situação, mas se os primeiros possam ser menos radicais ainda permanece o estigma em certos meios populacionais. Isto mesmo se evidenciou das expressões do nosso visitante.

Padre Júlio