POBRES

Já nos conhecemos há mais de 10 anos. A primeira visita que nos fez foi em 2012. O pároco escrevia na carta que nos mandou por ela: «casada catolicamente e tem duas filhas menores. O marido está agora a trabalhar na construção civil mas só recebe quando lhe pagam… Das pequenas recebe só o que a Segurança dá… já passou muito mal e não desejo que as filhas passem o mesmo».

Decorrido este tempo já passou por 4 casas alugadas. Para a actual, com 4 meses, espera receber um subsídio do Estado para ajuda à renda, de pouco mais de metade do que já está a pagar.

Como dizia o pároco que os casou, «já passou muito mal». E mais passou quando o marido a abandonou, deixando-a com as duas meninas com menos de 10 anos de idade e outra menina que estava para nascer.

Nas maiores aflições contava connosco, para a renda, para o infantário, água, luz…

Agora, muito recentemente, novo agravamento, que o dinheiro não resolve totalmente, uma doença «ruim», como diz o povo. Cruz não só na doença mas também nos caros tratamentos: «Desde dia 17 que devia tar a tomar mas e 50€ cada caixa» (sic). Pelo telefone havia-me dito que a médica lhe referiu que morrem muitas mulheres (é uma doença feminina) porque não têm dinheiro para os medicamentos.

Culpa nossa, também.

Por vezes, achava que ela estava a abusar um pouco. Foi numa fase em que não vinha cá (a distância e os meios de transporte dificultam). É importante vermo-nos, ainda que não seja na casa que habitam. As palavras não substituem o ver.

Dou graças a Deus pelo que fizemos, e peço-Lhe perdão pelo que podíamos fazer e não fizemos. Neste caso podemos dizer presente; muitos outros, pelo mundo fora, carecem de cireneus.

Padre Júlio