
POBRES
Senhor abade, traga-me trigo e peixe se tiver!» A Pobre sempre nos pede pão «nem que seja seco!».
Como é que há-de haver paz se ainda há uma imensidão de seres humanos a passar fome, sem pão?
Ligou-me no fim-de-semana: «Se puder cá vir na segunda ou terça-feira…» Como poderia fazê-la esperar e passar mais dias sem nada?
«Uma vizinha dá-me uns feijões, mas gasto muito gás a cozê-los.» Pelo caminho, estando a loja aberta, repetimos o gesto: pagamos antecipadamente a botija, com o recado de, se puderem, irem lá hoje. Num saquito de mercearia vão latas com feijão cozido. Sei dos seus gostos.
Outro gosto é a cevada. Com ela vai um pacote de açúcar. Um armazém de café oferece-nos a cevada. Eram gostos e hábitos antigamente generalizados.
Água vai gastando de uma filha. A factura da luz é pequenina. Fica por nossa conta. O que come bem na sua pensão é a saúde, apesar de as receitas passarem pelas nossas mãos. No entanto, tem de ter uma reservazinha para as deslocações ao hospital de Amarante. A sua pobreza vai de táxi. Dantes resolvia tudo no hospital local. Agora, tem de ir mais longe tratar as suas maleitas.
A chamada boa gestão deita por terra o pouco que os pobres têm.
Padre Júlio