PELA CASA DO GAIATO DE SETÚBAL
"Ajudar é a palavra mais sublime do vocabulário cristão…"
P. Américo, Notas da Quinzena, p. 37
Novembro, iniciando com o dia de Todos-os-Santos, recorda-nos que a dimensão baptismal nos introduz na dinâmica da vida divina e nos faz apelo ao seguimento de Jesus, no testemunho do Evangelho da Caridade, como discípulos/missionários.
Por casualidade, ou na douta sabedoria da Igreja, o arco temporal deste mês, incluí vários modelos de santidade que perduram na liturgia universal com os seus gestos de socorrer, abrigar, apoiar e servir os "pobres", com escritos e principalmente gestos generosos de beneficência para com os irmãos.
Temos são Leão Magno, que além de defensor da Igreja, perante as investidas dos bárbaros, teve sua grandeza no serviço ao povo simples e humilde de Roma, incentivando obras de misericórdia, em uma Roma dominada pela escassez, pobreza, injustiças e superstições pagãs; colocou em prática todas as acções necessárias – lê-se em seus escritos – para manter constantemente a justiça e "oferecer amorosamente a clemência, porque sem Cristo nada podemos fazer, mas com Ele tudo é possível".(Vatican News, 10 Novembro 2025).
De seguida, temos São Martinho recordado no seu gesto de "repartir" a capa com um pedinte em noite fria do Inverno, ganhou a graça de conhecer Jesus e ser das poucas personagens que tem sua história resumida em uma única acção, tão poderosa a ponto de permanecer indelével e profunda em uma vida. Martinho depois do baptismo e de uma vida como soldado, sempre generoso com os mais necessitados, assumiu a missão de bispo, mas com seu estilo próprio de vida: não quis viver como príncipe da Igreja, para que as pessoas — pobres, presos e enfermos — continuassem a encontrar abrigo sob seu manto.
E Santa Isabel de Hungria, que a par de sua sobrinha santa Isabel de Portugal, se lhe atribui o "milagre das rosas", que instada a revelar o que levava ao "colo", ela responde ao seu marido: «são rosas, senhor!», e assim o pão e os outros alimentos tinham-se transformado em belíssimas rosas frescas. Depois da morte do esposo, e com os bens que lhe foram atribuídos, ela deu um testemunho notável de caridade radical e serviço abnegado aos pobres e doentes, uma escolha de vida que a destacou da nobreza da sua época…
O Santo Padre, o Papa Francisco, instituiu em 2016, neste mês de Novembro o Dia Mundial dos Pobres, para chamar a atenção sobre a realidade da pobreza e convidar a Igreja e a sociedade a acções concretas de solidariedade e compaixão.
Nas palavras dirigidas à Diocese de Setúbal, para este dia, o Senhor Bispo, coloca uma afirmação imprescindível do Papa Leão, na sua mensagem: Como afirma o Santo Padre, "os pobres não são objectos da pastoral, mas sujeitos criativos" (n. 6) — caminham connosco e evangelizam-nos, revelando-nos a força e a beleza do amor ao próximo, gratuito e generoso.
São precisamente estes gestos que continuam a constituir a nobre missão, que o nosso Pai Américo nos deixou com a sua genial intuição de constituir o que designou "Património dos Pobres", que tem uma panóplia de concretizações, conforme as imensas e variadas solicitações que continuam a chegar às nossas Casas do Gaiato.
Em Setúbal, como bem se recordarão com saudade dos escritos tão profusos e "acutilantes" do P.e Acílio, este tema da partilha com os mais indigentes e frágeis demonstrava as debilidades existentes nestas terras sadinas.
Mas em abono da razão, e fazendo "mea culpa", nunca foi levado aos queridos amigos e leitores, que a Casa do Gaiato de Setúbal, na presença e na ausência do P.e Acílio, nunca deixou de partilhar com abundância os bens que nos são doados generosamente, como que a perpetuar as duas "Conferências Vicentinas" que existiram nesta Casa e dinamizadas pelos gaiatos.
Todas as sextas feiras, com a dedicação generosa da D. Cristina "leitora", sucedendo à sua avó, frequência habitual na "Quinta do Mocho", e com a colaboração de gaiatos, mormente pelo voluntariado dedicado do José Luís, e com a envolvência dos nossos colaboradores, na selecção de roupas, mobílias, louça, brinquedos partilhados e alimentos ofertados, distribuímos estes bens às várias famílias que nos procuram, observando-se, nestes últimos tempos, um aumento exponencial de situações de precariedade a todos os níveis numa maior heterogeneidade.
Como os "exemplos vivos", aquecem mais os nossos corações, teremos a oportunidade de levar até vós, alguns acontecimentos que elucidarão a continuidade desta nossa missão, na consecução dos fundamentos do "Património dos Pobres"!
Um grato "bem-haja" a todos que persistem, com a sua generosidade, partilhando os seus bens, qual telha a "gotejar"….
Padre Fernando
