PELA CASA DO GAIATO DE SETÚBAL

Em Fátima o toque dos sinos é uma presença ímpar, marcando os ritmos das horas, mas também um convite para as várias celebrações que congregam as "gentes" mais diversificadas que podemos imaginar… ainda numa destas noites, na recitação do terço, na capelinha, um dos mistérios foi orientado em língua asiática, do Surimane, e apesar da incompreensão verbal, havia sintonia de corações na oração!

Tendo sentido o alerta da melodia das "campanolas" às primeiras horas, aproveitei para me questionar acerca das razões que poderiam impedir-me de vos dar notícias da nossa vida na Casa do Gaiato de Setúbal. Mais ainda quando tantos de vós, caríssimos leitores, sois fervorosos e assíduos benfeitores pela amizade dedicadíssima que nos manifestam…

Hoje em dia, temos de enfrentar sérios desafios no acompanhamento das crianças e jovens que nos estão entregues e que se revestem de duas facetas maiores. A primeira respeita exigências ao nível do ensino, tendo em conta as características muito próprias dos nossos rapazes, maioritariamente oriundos dos PALOP's. A segunda resulta da situação concreta de cada um deles, marcados por experiências de vida familiar muito singulares que deixaram traços incontornáveis de ansiedade e inquietação. Assim sendo, temos de, permanentemente, nos "reinventarmos" para correspondermos aos seus anseios, minimizar as experiências vividas e trabalhar na sua reparação.

Na verdade, o "projecto educativo" idealizado pelo Pai Américo: "fazer de cada rapaz, um homem", tem de continuar a ser o "leitmotiv" , o fio condutor da nossa missão. Mas esta só pode avançar com a consciência da profunda mudança ocorrida nestes últimos tempos com a globalização, e tendo em conta a revolução provocada pelas redes sociais, que estão em constante transformação. Por aquilo que nos é dado observar, a omnipresença das redes sociais não vai num sentido positivo e de formação mais válida nas vidas dos jovens. Um dos gaiatos, há dois dias, quando se falava no "facebook" afirmava que isso era já dos "kotas", elencando outras soluções que eu não tinha sequer ouvido falar.

Temos de ter a consciência que deve haver uma abordagem holística de cada um deles, com a problemática individual que encerram no mais íntimo dos seus corações.

O que se nos impõe é um acompanhamento muito mais personalizado e orientado, havendo a exigência de recorrer a pessoas formadas nas diversas áreas do conhecimento, particularmente das ciências humanas.

E perante esta "revolução" temos de nos questionar acerca da forma de estar e servir as Casas do Gaiato, tendo, desde logo, de nos empenharmos em instruir no nosso "espírito e estilo" de vida o coração dos colaboradores "exigidos" por imposição legal.

O que requer, decerto, uma conversão profunda de cada um de nós (padres e colaboradores mais antigos), o que, porventura, poderá provocar as "dores de parto" das quais nova vida ressurge. Só assim poderá acontecer um "aggiornamento" e evitar-se o anquilosar do legado inovador e precursor que constitui a Obra da Rua, erigida pelo nosso Pai Américo.

Padre Fernando