PELA CASA DO GAIATO DE SETÚBAL

«Eu cá gosto de rapazes que vibrem... o Gaiato, ainda o mais educado, não é um anjinho. O saltar, o quebrar louça e vidros... diabruras espontâneas - válvula de equilíbrio e nada mais!» (Padre Américo)

Desculpem os nossos amáveis leitores e amigos na minha insistência, se calhar sinal de algum deslumbramento com esta missão de "educador", pois estou deveras convencido que "educar" do jeito que o nosso Pai Américo preconizou (atendendo às devidas distâncias socioculturais) é um projecto que se me vai revelando paulatinamente, quando a nossa confiança nos "rapazes" vai manifestando a segurança deles na relação connosco.

Como Obra De Rapazes, Para Rapazes, Pelos Rapazes, tem de se dar permanentemente possibilidades de poderem revelar a apreensão dessa realidade. De tal forma que a terceira premissa - Pelos Rapazes - é o elemento crucial que está na génese de uma identidade única da Casa do Gaiato, em comparação com os processos educativos vigentes em instituições similares. Isto caldeado pela existência de relações de índole familiar que têm de caracterizar a nossa vida comunitária.

Para que esta realidade funcione, é imprescindível que os "chefes" assumam com clareza a sua função ao serviço dos irmãos mais novos. Como dizia Padre Américo, "chefe, na nossa doutrina, quer dizer servo da comunidade. Chefe, olha a tua responsabilidade perante a tua consciência, perante os teus companheiros mais novos, a casa a que presides, perante a Obra de que fazes parte e perante o mundo inteiro" (Cf. A Porta Aberta, p. 128-129).

Só com Gaiatos conscienciosos das suas incumbências a Casa pode funcionar e caminhar na senda pretendida. Concretizando o tal princípio: "Pelos Rapazes".

Na verdade, esta pequena reflexão serve de introito para anunciar a reorganização e nova "chefia" na casa do Gaiato de Setúbal.

Em "Assembleia", sob a presidência do Padre da Casa, foi feita a proposta dos vários chefes que foram aceites por unanimidade.

Houve uma excepção, a da Casa 2, onde vivem os mais velhos dos rapazes estudantes, onde o "chefe" foi eleito por eles.

Assim, como "Chefe Maioral", por experiências anteriormente assumidas, ficou o Milton. O "Sub-Chefe" é o Rafael que fica como responsável pelo desporto e orientação das orações comunitárias. O "Chefe" da Casa 3 continua a ser o José Samper. Como "Chefe" da Casa Mãe", está o Samuel. A responsabilidade da cozinha, copa e refeitório ficou com o Mamadu "Baba".

Em apoio a esta nova equipa, e como orientador da área educativa, cultural e musical ficou o Danilo Rodrigues.

Tal como noutros tempos os rapazes afirmavam: "nós somos os orientadores de nós próprios" (Cf. A Porta Aberta, p. 128), também hoje vamos dar um voto de credibilidade para que os encargos assumidos continuem a revelar a dedicação outrora vivida e experienciada por uma plêiade de jovens que contribuíram para a construção das nossas Casas, e que com o seu testemunho nos deixaram tão grato legado!...

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E agora uma pequena partilha...

Na celebração da Ascensão do Senhor, também designada popularmente "Dia das Rogações", ou "Festa da Espiga", quisemos retomar uma antiquíssima tradição que ainda subsiste em algumas comunidades rurais.

Como os nossos queridos leitores são conhecedores, em todas as nossas Casas existe actividade agrícola, e aqui em Setúbal, com árvores de fruto, horta e um pouco de tudo, mas com cultura intensiva de "azevém" e milho para as nossas "turinas", organizámos a "Celebração Litúrgica da Bênção dos Campos".

No fim da Missa, a procissão partiu da Capela ao som do "canto das rogações" - Ladainha dos Santos -, até ao local que possibilitaria a melhor visibilidade dos terrenos e plantações.

Uns dias depois, um dos rapazes da casa-mãe, também chamados de "batatinhas", fez-me uma pergunta em tom de exclamação: "Padre Fernando, o que rezámos e a água benta que deitou nos campos não foi para matar todos os "bichinhos"? A pergunta surgiu porque ele viu-me com alguns dos irmãos a apanhar um "fartote" de caracóis que infestavam as oliveiras, carregadinhas de azeitonas e que, se não houver alguma "desgraça" atmosférica (também rezamos para afastar as intempéries), nos deliciarão com um abundante e óptimo azeite.

Afinal, os nossos "gaiatos" parecendo um pouco distraídos, entendem e absorvem bem, e muito bem, o que se lhes vai proporcionando experienciar no dia-a-dia, aqui por Casa!

Padre Fernando