
PELA CASA DO GAIATO DE SETÚBAL
Filhos… são filhos
Procurando "inspiração" para escrever o artigo para este número d'O Gaiato, sendo o mesmo de "aniversário", vim até à marginal desta linda cidade sadina que, para meu espanto, até porque estava com algum receio das autoridades, apresentava um corrupiar de pessoas, umas de passeio higiénico com os animais domésticos, outras fazendo desporto e mais algumas caminhando com os filhos...
Foi neste momento que, folheando o livro "A Porta Aberta", surgiu o epíteto: "Filhos...são filhos..."
Aconteceu, entretanto, que dois de vários telefonemas que fui recebendo, tinham a ver precisamente com as preocupações que, nestes tempos, fazem parte do dia-a-dia de qualquer família com filhos em idade escolar, potenciadas, no nosso caso, pelo número dos rapazes que estão a ter as aulas online.
Os casos a que me quero referir, resultaram do contacto de directoras de turma, mostrando a preocupação e solicitude pelos "meninos" da nossa Casa.
Uma, da escola Bela Vista, é transmontana, de Bragança, e, por coincidência, filha de pais, meus ex-paroquianos. O mundo da relações humanas é sempre muito mais apertado do que o que suspeitamos!
Pretendia dar-me nota de que as aulas de educação musical, finalmente, tinham começado, pois já havia docente para as mesmas. E por isso também queria dar-me indicações sobre como esse professor gostaria que fossem apresentados os trabalhos. E além disto, ela mesmo apresentou-me e explicou-me a forma como deveriam ser entregues as "obrigações" escolares relativas às disciplinas que ministra.
Claro que a sua proposta é bem adequada quando se tem em casa apenas um aluno, o que não é o nosso caso. Por isso lhe respondi, agradecendo a sua orientação, que temos também de adequar métodos que nos possibilitem dar resposta a todas as solicitações, pois cá em casa não temos apenas um, nem dois, mas muitos "filhos". E o desafio é tratar todos eles, e cada um, na sua individualidade.
O outro telefonema foi no sentido de partilhar uma certa inquietação com outro dos nossos jovens, que apesar das notas muito favoráveis trazidas da sua terra natal, a Guiné-Bissau, tanto nós como os professores temos dado conta do fraquíssimo aproveitamento e das limitações manifestadas na compreensão dos trabalhos propostos. Resulta que, na perspectiva do conselho de turma, e de acordo com o diagnóstico estabelecido, deve ser apoiado no âmbito de "necessidades educativas especiais".
Para sublinhar a especial atenção que existe para com ele, por iniciativa pessoal, a professora de português dispôs-se a ministrar uma aula suplementar semanal, para tentar ultrapassar as dificuldades na leitura e interpretação da língua.
Acresce ainda que nos propuseram um acompanhamento especial por parte da psicóloga da escola, no sentido de tentar debelar questões que possam estar a influenciar a vida deste gaiato, algo acolhido de bom grado por nós...
Muitos outros exemplos poderia referir que testemunham a consideração pelos nossos rapazes da parte dos educadores escolares.
Estas palavras agora escritas são, de forma especial, para mostrar o nosso mais profundo reconhecimento pela generosidade, diligência e delicadeza com que são tratados na vida escolar. Podemos dizer mais, o grande carinho que se constata nas relações cordiais e de grande proximidade.
Ao contar estas pequenas histórias, que no futuro podem significar tanto na vida dos rapazes, queremos partilhar com a imensa família d'O Gaiato, estes gestos generosos e repletos de carinho que vão acontecendo na vida desta Casa do Gaiato de Setúbal...
Padre Fernando