
PELA CASA DO GAIATO DE SETÚBAL
"... E um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?" (Tg. 2,16).
Hoje, no dia de entrega dos nossos "escritos" para o jornal, poucos minutos antes de me dispor a escrever umas "linhas" para o "Gaiato" (a partir de alguns pensamentos que pulularam na mente durante a semana), abordou-me um senhor "bem posto", e decerto com um grande coração, e quase a lacrimejar, pedindo: "Senhor padre estou aqui porque eu tenho estado a ajudar umas três famílias e já não posso mais...". E eu perguntei, mas que ajuda? Alimentos? Roupas? Pagar despesas? Quanto a este último ponto terá de esperar pelo Padre Acílio, que tem a responsabilidade do "Património dos Pobres". E ele diz-me: "Preciso um pouco de tudo isso para ajudar essas pessoas que me vieram pedir socorro", ou seja, a "pobreza envergonhada".
Nas ditas reflexões semanais, sobressaltou-me sempre esta realidade incontestável de uma pobreza que se advém significativa, e já está presente, que afecta todos sem excepção. Pelos efeitos colaterais do estado de emergência e situação pandémica não será fácil para muita gente escapar a uma situação paupérrima, que levará a recorrer a qualquer tipo de ajuda que se apresente.
Apesar de termos de acautelar a preservação da saúde dos nossos rapazes (ainda não se manifestou qualquer surto de COVID-19 na nossa comunidade), mas também como foi sempre timbre da nossa Obra, e também desta Casa de Setúbal, o "acolhimento" aos pobres e indigentes, foi criado à entrada um "espaço" para dispensar roupas, alimentos, louças e brinquedos para aqueles que vêm ao nosso encontro neste tempo de grande aperto e aflição. Foi precisamente para aí que enviei o dito "senhor" que decerto encontrou o necessário para as suas pretensões, pois não voltou a dirigir-se a nós.
Queremos que esse espaço seja também um lugar de partilha. Está a ser orientado por pessoas amigas que, num dos casos, já organizaram um conjunto designado "grupo das mães", junto das quais outras mães expõem as suas necessidades e são orientadas para este serviço de caridade. Aqui também algumas "mães" oferecem, conforme as suas possibilidades, bens monetários e produtos consumíveis que servirão para reposição das faltas que se vierem a fazer sentir.
Como bem se sabe, o nosso sustento acontece pela generosidade dos nossos benfeitores. Neste tempo "aflitivo" queremos poder continuar a contar com a liberalidade dos "amigos" para podermos responder a tantas solicitações e a muitas outras que se avizinham...
É precisamente nestes momentos que sentimos a absoluta actualidade da visão e das propostas de Pai Américo, nas quais nos continuamos a inspirar para actuarmos como discípulos do Mestre.
Padre Fernando