PATRIMÓNIO DOS POBRES

Património tem, nesta altura, duas frentes de trabalho e despesa. Uma foi-me recomendada pelo senhor Bispo.

Como eu gosto que os Bispos sofram com os Pobres! Ai, que se todos fossem assim, transmitiriam aos padres a sua angústia e não os deixariam somente com o que se chama pastoral e uma indiferença que não lhes toca o coração!

Sei que os padres hoje têm muito trabalho, mas não é demais pedir-lhes que, ao menos um dia por semana, se dediquem aos Pobres, nem que seja no seu dia de folga. A procura da ovelha perdida caracteriza o Bom Pastor.

Está aqui uma das razões porque muitos cristãos abandonaram a Igreja Católica e as celebrações perderam o seu sentido.

O Papa Francisco bem prega, mas quem o ouve?

Dois sacerdotes fizeram da Obra da Rua o seu cofre e, de vez em quando, repartem connosco o que lhes sobra de forma substanciosa. Actualmente não se encarregam de nenhuma paróquia. Um deles vendeu uma casa. - Para que preciso eu desse apartamento? Vou vendê-lo e dá-lo aos Pobres! Era assim que procediam os primeiros cristãos, tocados ao vivo pela ressurreição de Jesus. A eternidade falava-lhes profundamente! Mandou-me 26.500 euros e o resto deve-o ter repartido por obras que olham para o mundo miserável.

Outro, fez de nós os seus herdeiros e, de vez em quando, aí manda ele um cheque pesado.

Sacerdotes da nova lei.

Como seria apostólico que os padres pregassem os Pobres e com a sua aflição desinstalassem tantos adormecidos na sua vidinha. Se tivessem o coração abençoado pelo espírito de pobre e fossem possuídos pelo Espírito d'Aquele que não tinha onde reclinar a cabeça. A igreja teria outra atracção e outro rosto.

Diz o Papa Francisco que escutar os Pobres, é condição para que Deus nos escute.

A Câmara atribuiu uma casa a uma família idosa e doente que vivia num carro velho, mas o apartamento estava todo destruído: sem janelas, sem portas, louças partidas, torneiras arrancadas, bichas roubadas. Uma desilusão!

A senhora Presidente disse-me, um dia, que pedisse à Câmara e eu assim fiz. Fui aos serviços e a resposta foi: - Isto demora pelo menos 6 meses.

Já mandei pôr as janelas. Já lhes guardei um fogão, um frigorífico e um esquentador.

Já temos porta de entrada, as interiores são mais altas do que as que nos têm oferecido. Queriam logo mobílias e a casa está nua! - Sim - disse-lhes -, mas quando a morada estiver segura! Este foi o caso do senhor D. José.

O outro veio ter comigo em lamentos que me obrigaram logo a ir, no mesmo dia, ao local. Uma casa meio acoberta com chapas de lusalite e o resto a céu aberto. - Oh! senhor Padre, olhe que para fazer as nossas necessidades temos de sair da cidade e ir ao campo! Com duas filhas já mocinhas a dormir num colchão colocado no piso, com uma película de cimento, arejada, por cima, com tijolos colocados nas paredes, um aqui outro acolá e a chapa de amianto a cobrir a mesma divisão. Nos meses quentes ainda se tolera! Mas no Inverno é um gelo.

Na parte descoberta da casa vi um largo buraco cheio de água e sabão. - O que é aquilo - perguntei logo que subi, com o amparo da pobre, os irregulares degraus da entrada. - É a água da roupa que acabei de lavar à mão.

A casa tem de ser desfeita a não ser o quarto de casal, onde agora, a heróica mãe dorme com as crianças mais novas.

O marido está preso por não ter pago duas multas de andar a conduzir um carro velho. Concordo plenamente com tal castigo. Guiar um carro sem carta é perigo para toda a gente. Há que reprimir! O que falha aqui é a Segurança Social que, com os meios informáticos à mão, devia ter visitado esta família, o que pelos vistos não lhes interessou.

Tinham começado uma escada para construir mais um quarto num pequeno sótão para quando o menino crescer.

Já tenho as medidas da telha que vai ser com isolamento térmico; de Inverno quente e fresca no Verão.

Pedi um orçamento com os materiais ao meu cargo e espero aliviar este peso que me destrói e destrói a família.

Pelo que vi, deu-me a impressão de se tratar de gente limpa, apesar de tomarem todos banho no alguidar.

Vamos dar dignidade a esta família! Ela é visitada por um pastor de certa seita religiosa o qual apenas lhe dá alguma consolação e caça ao proselitismo. Este ainda vai e deixa-nos um testemunho que nos envergonha.

Visitar os Pobres e interessar-se pela sua vida é a melhor maneira de os conquistar para a Verdade de Jesus Cristo e de O pregar! A nossa palavra ganha conteúdo e força!

Padre Acílio