PATRIMÓNIO DOS POBRES
As grandes organizações da igreja ajudam os pobres, mas nem sempre pregam o Evangelho com o que lhes facultam.
A primeira missão da igreja, é a difusão da Mensagem Divina, pela palavra confirmada pelas obras. Este mandato, realizado segundo as leis do mundo, perde o seu pendor apostólico, por mais propaganda que se lhe faça, por mais esforço que se lhe despenda ou até pelos maiores elogios que as autoridades eclesiásticas lhe atribuam. Pela grandeza, pela amplitude de mão-de-obra, tantas vezes pouco apurada, que abraçam e, até, pela dependência, conhecida e indispensável do Estado, desvalorizam muito o efeito apostólico da sua finalidade.
As sombras levam-nos a apreciar melhor a luz.
Nunca me pareceu tão valorosa a profecia e a recomendação, lúcida e apostólica, de Pai Américo: Cada freguesia cuide dos seus Pobres.
O significado de freguesia, no conceito daquele sacerdote, não abrange a realidade social a que, hoje, chamamos paróquia, mas somente a comunidade eucarística que celebra os Mistérios Divinos.
Não me entendam mal, a minha opinião e experiência na relação com os Pobres e no verificar o raro fruto apostólico de tanta instituição eclesial, leva-me a pensar que o que falta aqui é mais pobreza do que a organização.
Certa manhã, já sol alto e quente, os Rapazes vêm dizer-me que estão ali uns senhores, para falar comigo.
A organização do dia, em férias dos Rapazes e outras solicitações espontâneas, facilitaram-me o esquecimento do recado, e as pessoas esperaram pacientemente que lhes aparecesse. Era um casal de doentes. Tanto um como outro, exibiam sinais de sofrimento.
Afligia-os, ainda, o atraso no pagamento da renda da casa, umas receitas médicas por aviar e o corte da água.
Moram perto da igreja paroquial. A pergunta impôs-se-me e saiu-me da boca quase sem reflexão: - Já foram ter com o senhor padre de lá? - E a resposta foi triste: - Não nos atendeu.
Não sei se falavam a verdade, mas o que conheço daquele senhor, é que o vejo afogado em problemas e em conhecimentos de sabedoria social que me constrange.
O Património dos Pobres, como pensam estes sacerdotes, não faz orçamentos. A nossa receita não está em nossas mãos, mas nas de Deus. Distribuímos o que vamos tendo, procurando ajudar sempre os mais necessitados.
Agora deixo esta pergunta: Se não conheço a situação das pessoas, para me assegurar da sua verdadeira necessidade, a quem devo pedir informações? Será ao presidente da Junta de Freguesia? Será à Segurança Social? Algum médico ou professor ali perto? Não me devo dirigir, em primeiro lugar, ao Pároco? Não é ele a cara da Misericórdia e da Justiça de Deus? Sim. A quem me dirigir?
Como faz bem ir à casa dos pobres! E..., pelo bem que recebo, gostaria que todos os sacerdotes beneficiassem de toda esta graça pascal! Ir à casa do Pobre, é visitar "o mais pequenino dos meus irmãos", assumir as suas dores e necessidades, é descobrir "o tesouro escondido" e é ganhar capacidade para responder à sua penúria.
Mas quem acredita nestas páginas plenas de beleza evangélica? Quem? A doença daquele homem é uma enfermidade rara, a enorme barriga que ostenta é sinal de grande sofrimento. - Se eu arranjasse o remédio para isto dava tudo o que podia. - Desabafa em lágrimas.
Vivem de uma pensão de trezentos e poucos euros e pagam, em renda de casa, 350,00€.
Incitei-os a mudar a sua morada para outro local mais barato, que ajudá-los-ia dando-lhes os móveis necessários. E, mesmo que poupassem 100€ por mês, eram 1200,00€ ao ano. O dinheiro é muito caro. É preciso aprender a poupá-lo.
Ela, também doente e, ainda por cima, com duas filhas.
Ora, estas informações recolhidas pelo pároco, e o seu eco, não valeriam mais do que muitas homilias eloquentes, e não lhe trariam ofertórios mais avultados, nas missas dominicais?
O Papa Francisco bem prega o evangelho da proximidade, mas quem o ouve?
Sim. Quem o entende? Ele vem aí, a Fátima, Santuário onde Nossa Senhora pediu a
conversão, mas para esta gente incrédula, está tudo convertido. A conversão não
é para os Cristãos, nem para os sacer-
dotes, etc.. A transformação é só
para o povo ímpio, incrédulo e afastado da igreja. As pessoas religiosas já
estão todas convertidas.
O Papa Francisco bem pode ser, pregar e fazer. Isso é para os outros.
Exceptua-se, naturalmente, o pequenino rebanho, que não se cansa de caminhar para Deus, através dos Pobres e pela Pobreza. Este, alegra-se pelas exigências do Papa Francisco e não para de procurar a conversão.
Padre Acílio