
PATRIMÓNIO DOS POBRES
Tenho comigo carta de um padre Amigo de há muitos anos, que me obriga a pôr no cimo do candelabro para alumiar ou ofuscar alguns clérigos que nunca experimentaram a Providência Divina e vivem como sendo do mundo.
Diz assim: Saúde (!) Paz e Graça ao serviço dos pobres.
Não era para escrever já, mas ao ler a sua crónica no "famoso", datada 20 de abril, não evitei. Obrigado pelas suas palavras escritas que me põem de alerta para com os pobres.
«Tenho aqui uma família vizinha que foi presépio vivo no último Natal. Desempregado com duas filhas e mulher, cheio de dívidas, chorava a meus pés, por clemência.
Pus o problema na missa. Ficou tudo resolvido. Já trabalha, não tem dívidas: grande prenda do Menino Jesus!...
Com as minhas poupanças juntei 5.000,00€ que lhe vou enviar por transferência bancária, para o problema que tem sobre os ombros.»
Bonito!... Muito lindo!... Também este Sacerdote não passou ao largo do pobre da Samaria, como aquele que Jesus acusou. Não se meteu na sua vidinha, nem teve medo de melindrar o seu povo, na Festa de Natal com histórias tristes, como acontece muitas vezes nos nossos dias.
Na homilia do Natal, o tema foi o cair na valeta da pobreza extrema. Fê-lo com paixão, afoitamento e os cristãos corresponderam.
Este Sacerdote tinha no ouvido o apelo do Venerável Américo de Aguiar e arriscou com tal êxito que uma família derrotada pela miséria e abandono, transformou-se num lar pobre mas digno, tendo saldado os seus débitos e alicerçado o seu futuro. Cada freguesia cuide dos seus pobres!...
É verdade que numa cidade quase dominada por terríveis pobrezas, a situação não se pode erradicar de uma ou duas vezes, todas as Misérias Humanas. Mas poder-se-ia fazer muito mais, se as dores chegassem ao coração dos actuais Sacerdotes e cristãos.
A alma deste padre não se fixa somente nos pobres que o rodeiam, vai mais longe: sabe do Património, lê o Gaiato e sente-se impelido a repartir as suas pequenas poupanças.
Os pobres, queridos leitores, sofrem muito!... Às vezes por culpas que são de outros. Eu sou testemunha, eu sei e vejo tanto sofrimento, provocado por quem desvia os olhos do pobre e por uma política electiva que pôs os pobres de parte.
Uma desgraçada sozinha. A mãe andou na prostituição e agora vive com doença. O pai esteve preso muito tempo e morreu. Os irmãos que ela criou foram para a droga. O progenitor da filha dela, dava-lhe grandes tareias e ameaçava-a de morte, se ela o denunciasse. Actualmente vive num quarto por esmola de uma família com coração.
O Património deu-lhe a mão. Ela caiu doente e foi operada por 5500.00€ num hospital particular, por um habilidoso e voltou à mesma cirurgia um mês depois pelo mesmo senhor, com o custo de 6000.00€. Claro que ficou tudo aldrabado e de tal maneira que numa consulta particular o especialista informou-a de que corria o perigo de morrer, se não fizesse um tratamento e fosse novamente sujeita a outra cirurgia.
Perante tal aberração, chamou-se um advogado que quis falar com o seu colega do hospital. Apareceu logo um batalhão de causídicos a defender a empresa hospitalar, que não estiveram de acordo com a reposição do dinheiro gasto nas duas cirurgias falhadas.
Ai de quem abusa dos pobres, os explora, humilha e causa a morte. O tribunal poderá não obrigar a respectiva Casa de Saúde a fazer Justiça, mas o Pai Justo não dorme e a sua atitude é implacável, na defesa dos oprimidos.
Não estou para enganar ninguém, muito menos para inventar casos ou me deixar seduzir por cantigas.
Padre Acílio