
PATRIMÓNIO DOS POBRES
As dores dos pobres são as minhas dores. Não fosse o meu sentir já quatro mães abandonadas teriam morrido.
A falta de obstetras nos hospitais, do Serviço Nacional de Saúde (SNS) fez com que estas mães com dois filhos, recorressem ao hospital privado que tem descoberto aqui uma mina de dinheiro, talvez para enviar ao seu país, pois os donos são estrangeiros.
Desta vez tive de empenhar a renda da casa, onde moro, para pagar uma destas operações. O arrendatário é um senhor engenheiro, um antigo Gaiato, porque eu pessoalmente não tenho base económica para tão elevado preço. Ele terá de esperar que eu arranje a quantia para pagar por mim, antes do dia oito.
É de lamentar que os governos anteriores tenham vendido não só, a nossa energia, mas também a saúde dos portugueses pobres. Sim, aquela grande nação está a transformar-se numa enorme potência internacional.
Vendendo ou autorizando a estabelecerem-se neste pequeno país, com quase duas dezenas de hospitais, encontraram nesta conjuntura política uma óptima oportunidade para crescerem, rivalizando com o Estado nas benesses aos seus médicos e enfermeiros.
O Estado sabia muito bem as consequências que adviriam deste negócio, não só em seu favor como em prejuízo dos portugueses mais pobres.
Uma cirurgia, um tratamento, um pequeno penso ou até uma agulha para dar uma injecção, tudo é pago a peso de ouro. E não há outro remédio, ou melhor, outra disjuntiva, ou apresenta a 'massa' ou espera até a dispor ou vai-se embora até arranjar: a incapacidade ou a morte.
Tem sido desta forma que o Património dos Pobres chegou a esta situação, apesar das muitas ajudas que brotam, do sacrifício de tantos amigos que comigo comungam o sofrimento dos pobres.
Quando me surge uma pessoa em circunstâncias de doença e necessidade, eu intervenho, não olho para trás nem para a frente se são desvalidas, vou esperando a providência de Deus que é Pai e nos tem no coração.
Uma das minhas doentes, cuja vida tem sido um autêntico inferno, veio hoje para o quarto que aluga, onde encontrou uma família com um coração, a qual lhe ficou com a menina de dois anos e é a alegria da mãe e a sua consolação. Ela saiu do hospital muito convalida, curvada com a mão na barriga e com um tratamento no valor de 2.000,00€.
Que havia eu de fazer se já era a segunda vez que era operada no Serviço de Obstetrícia? E esta a que já foi operada ao joelho duas vezes? Entra no mesmo hospital para cuidar de novo, daquela articulação, mas é-lhe exigido a quantia de 1.500.00€. Após a ineficácia do tratamento, resolveram operá-la impondo o preço de 6.000.00€ senão a perna terá de ser amputada. E a outra já aqui falada, sujeita a várias cirurgias aos pulmões, aos rins, a dois cancros, um na boca por debaixo da língua e outro na mama: agora tem necessidade de restaurar a própria boca implantando as duas dentaduras.
Poderás objectar leitor Amigo, o Património dos Pobres foi criado pelo "Beato" Padre Américo para ajudar nas casas e não nas doenças!… Mas que hei de fazer? — Guardar o dinheiro enquanto os meus irmãos morrem sem salvação?
Primeiro está a saúde, depois a casa. É claro que estas despesas retiram-se daquilo que o Património necessita, mas eu não sou capaz. A realidade é tão dura que me faz doer a Alma e chorar o coração.
Padre Acílio