PATRIMÓNIO DOS POBRES

Uma sombra triste se abate sobre a pobreza em Portugal num crescendo terrível.

Pobres dos pobres / São pobrezinhos / Almas sem Lar / Aves sem ninhos.

Lá vai o tempo em que o Património dos Pobres tinha capacidade para comprar uma casa e dá-la a uma família incapaz de a conseguir de outro modo. Em certas circunstâncias, poderá ajudar a pôr um alicerce de empréstimo bancário. Mais não!

A pobreza é tão larga e as necessidades são cada vez mais urgentes, que este movimento de Amor ao próximo que é o Património, cada vez se sente mais incapaz de responder a situações agravantes como as que vou contar.

Uma mulher abandonada pelo progenitor dos filhos, a quem tenho amparado há quase um ano, viu-se numa de doença e recorreu ao hospital público, o qual impotente, a enviou para um dos hospitais particulares de Lisboa. Eu pensava que quando assim é, o primeiro, o público assumiria as despesas dos doentes enviados, mas isso não aconteceu.

A pobrezinha queixava-se de uma mancha no peito. Os primeiros exames feitos revelaram um cancro num dos pulmões.

No hospital do Estado não havia capacidade para lhe tratar a doença. Enviaram-na para Lisboa. Ela foi prevenida com 1.400.00€ que me pediu. Nesse dia à noite, a médica da equipa que a operaria telefonou-me a dizer que a doente precisava de ser intervencionada urgentemente, mas os serviços administrativos do hospital, só autorizariam a operação se ela depositasse no mínimo 5.000,00€.

Mas quem é a pobre que tem no mealheiro uma quantia destas? Foi ela própria que veio de Lisboa a Setúbal buscar os 3.600,00€ que faltavam para perfazer a quantia exigida.

Se não fosse o Património era uma tragédia. Ela morreria. As duas crianças ficavam sem a mãe e sem amparo.

No hospital a doente contou, quanto o Património a tem ajudado e a equipa cirúrgica ficou tão impressionada que quer vir estar comigo. É o fruto das boas obras. Isso não me interessa, nem me deixo arrastar por elogios efémeros mas a verdade é que as obras falam mais forte que as palavras. Para implantar um pulmão saudável foi preciso mais 2.800,00€.

A mesma médica tornou a telefonar-me afirmando que a equipa e o hospital fariam a implantação gratuitamente. Depois foi necessário uma máquina para controlar a respiração e veio a minha casa uma enfermeira buscar o dinheiro, mais 1450.00€. Bem dizia o poeta: — E eu constato-o permanentemente.

Outro caso: Um menino de 5 anos com uma hérnia numa das virilhas, gritava ansiosamente, não havia na área Metropolitana de Lisboa, nenhum hospital que lhe pudesse valer. A mãe é uma senhora arrancada do fundo da pobreza e uma heroína condoída pelos caídos, com várias provas dadas. Telefonou-me a chorar confirmando-me que o hospital particular onde trabalha operaria o menino, pelo custo do material: 1.300,00€. Que lhe havia eu de dizer?

Uma amiga de Lisboa, tinha mandado para o Património 2.000,00€. Foi o que nos valeu. O que poderão fazer os pobres que encontram estas necessidades? Sim? Que poderão fazer? Se não encontrarem apoio? Como me soa a verdade a expressão do poeta que eu citava no início desta escrita.

Como não hei-de gritar aos cristãos, agarrados à riqueza material, ao fausto, às vaidades com carros, roupas e perfumes; com casas na praia e no campo; às viagens de distração e descanso, alheios ao que os pobres sofrem à sua volta.

Remato com o salmista: — Quero Misericórdia mais que o sacrifício; o conhecimento de Deus mais que o Holocausto.

Padre Acílio