PATRIMÓNIO DOS POBRES

Ter uma casa para viver é um privilégio que muita gente não aprecia, nem dá Graças a Deus por este Dom. Qualquer um de nós podia ter nascido de uma família carente, sem recursos e até sem casa, como tantos. Felizmente uma grande quantidade de pessoas são proprietárias do tecto aonde se abrigam e outras por capacidade própria, tentam adquiri-lo, mas são poucas as que apreciam suficientemente o bem que é ter refúgio próprio.

Venho com esta introdução porque vivo no meio de muitas famílias sem casa e sem capacidade.

Devo dar aos meus amigos uma notícia muito feliz: — ajudei agora duas mães abandonadas pelos progenitores dos filhos e conseguimos que elas se candidatassem à posse de uma habitação própria. Uma delas foi ajudada pela irmã de sangue e pelo património.

Os bancos não emprestam o dinheiro todo. É preciso ter algum, eles só concedem um suprimento, mas mesmo assim, as novas donas destas casas, ficam a entregar menos ao banco do que aos senhorios. Mais ainda, a pouco e pouco vão adquirindo uma casa para si e para os seus filhos. A casa começa a ser delas! É a minha casa.

Uma delas a quem o património deu mais, parecia transfigurar-se em alegria. Raras vezes na minha longa vida, tenho presenciado um espectáculo tão lindo e tão profundo. Ela ria, cantava, bailava, parecia doida de júbilo.

Ia pela primeira vez na sua vida ser proprietária da sua rica casinha.

Eu sinto-me consolado com a satisfação que os pobres me oferecem e obrigado a partilhar com os amigos que se doem das minhas aflições. Há quase um ano foi desamparada e eu já me referi á sua vida num dos meus escritos, por causa da demora do tribunal em acolher as suas razões e lágrimas. Agora, o juiz obrigou o procriador a colaborar no sustento e na educação dos filhos. Vamos ver se isso acontece, porque há muitas maneiras de se fugir a este encargo. Eu infelizmente conheço alguns e bem dolorosos. Quem continua com a carga é sempre a mãe.

Quantas se me têm dirigido e eu apenas lhes respondo: — eu não tenho dinheiro para te ajudar.

Aquela que foi obrigada, por causa do menino a emigrar para os Estados Unidos, foi agora também operada a um cancro na mama muito adiantado e eu mandei-lhe 3800.00€. Agora os médicos informam-na que tem de ser operada à outra, e que lhes direi: — não posso, não tenho dinheiro.

Na cidade onde se encontra há uma Associação que ajuda a pagar, embora de forma faseada, metade das operações desta doença.

Volto à alegria das nossas proprietárias, uma das quais já dei conta no Gaiato: esta foi tão jubilosa porque a senhoria, pessoa já dos seus oitenta e tal anos, casada com um homem mais velho, gente de dinheiro, fez esta sua doação, por um valor muito mais baixo. Ninguém leva o dinheiro para o cemitério ou crematório. Fica tudo neste mundo!... A gente só leva connosco as boas obras praticadas.

As boas acções são a nossa riqueza eterna. Elas não morrem e ficam gravadas por Deus no livro da vida. Durante nove meses o património pagou-lhe a renda da casa: — 375.00€ mês e à ama, a custódia, a alimentação e o cuidado dos filhos, enquanto ela esteve internada por causa de duas cirurgias.

Foi ela também que acolheu aquela senhora velha, abandonada, cega de um olho a dormir na rua.

Foi ela, esta heroína que agora tem casa!...

Tanta gente, mesmo católica vive enrodilhada pelo dinheiro e pelo mundo, como qualquer pagão, esquecendo aquele aviso de S. Tiago: A Fé sem obras é morta.

Padre Acílio