PATRIMÓNIO DOS POBRES
Diz a palavra Divina que o Senhor é o sol da Justiça.
A Justiça é sempre o alvo dos escritos do Património, como é também a denúncia da Injustiça, dos milhões de actos injustos cometidos pelo Homem.
É o caso de uma jovem mãe que há a cerca de 4 anos me apareceu adiantadamente grávida, lívida, carente de remedeio, envergonhada e triste.
Pediu-me o pagamento de 3 meses do quarto onde vivia com um filhinho de 1 ano. Contou-me a história infeliz da sua meninice, mais os motivos que a arrastaram para aquela situação.
Claro que satisfiz o seu pedido. O preço do quarto era 190,00€ mês. Uma jovem de 19 anos, já com dois filhos e abandonada pelo progenitor prendeu-me: sempre a fui aparando com outras pessoas, mas ela ficou dentro de mim!…
Dada a precariedade da situação, comprei-lhe uma casa num bom sítio da cidade por 50.000,00€. Tive colaboração e ajuda de muita gente, uma casa com uma grande sala, dois quartos, cozinha, e casa de banho. Ficou um mimo, pintadinha de novo com janelas por frente e por trás. Ela diz, várias vezes que ressuscitou com a sua casa.
Arranjou trabalho num hospital da cidade, como mulher de limpeza onde era explorada. Falou-me em tirar um curso de Auxiliar Médica. Paguei-lho e ela completou-o rapidamente e no mesmo hospital passou a ser Auxiliar Médica.
Com duas crianças, um menino e uma menina a seu cargo, pô-los em infantário e vinha dar-lhes mama e mimo à hora do almoço.
Sem me dizer nada, matriculou-se no Politécnico de Setúbal a tirar enfermagem. Soube dessa heróica aventura quando pelo Natal, me veio dizer que não aguentava as A e pensava em desistir do Politécnico.
— Ai! Isso é que não desistes.
Escrevi a uma amiga do Património que se prontificou a ajudá-la.
Entrementes encontrou uma antiga colega de escola, numa situação pior do que a sua, e sem me dizer nada, acolheu-a na sua casa, dando-lhe o quarto dos meninos que dormiam com ela na sua cama. A colega agora amparada, até então, morava numa casa com 12 pessoas e dois quartos, muitas vezes a dormir à porta ou na rua.
Quando me disse eu fiquei contentíssimo, bendisse a Deus por me pôr a viver no meio dos pobres, os quais me dão estes magníficos exemplos!
Entretanto a rapariga acolhida deu a luz uma menina. O menino mais velho veio dizer à mãe: — mãe a nossa família está a crescer.
Entrementes morre a avó da amparada e como ela era órfã de mãe, tornou-se herdeira da avó com um tio, homem de álcool e de droga que pretendia vender a sua parte a qualquer pessoa menos a sua sobrinha. Combinei com a heróica mãe, comprar ao tal tio a parte da casa e depois passá-la-íamos para a posse da nossa protegida. Isto custou ao Património 10.000.00€ com escritura e tudo!
Passadas semanas foi esta fazer a escritura de doação da casa à sua amiga o que custou ao Património mais 2.000,00€. Isto passou-se a acerca de 3 meses!
Agora a generosa e dedicada pobre recebe das finanças uma notificação para pagar ao Estado 1.319,65€ por ter doado uma casa à sua amparada.
Tu leitor (a) amigo (a) aceitas uma lei destas? O procedimento do Estado é justo? Ou é o escárnio contra quem luta por uma casa? Perante os executores das Finanças, ela bem explicou a razão por ter dado uma casa. Deu-a porque não lhe pertencia, contou o quanto o Património dos Pobres lhe ajudou na sua vida.
Não é pessoa acanhada e bastante inteligente e activa. Chorou, chorou e só havia uma resposta: — se não pagar até ao dia 28, nós penhoramos-lhe os seus bens.
Ela tem uma casa e um carro com o amparo do Património.
— Eu precisava de um advogado, ou melhor, uma dúzia de bons e generosos causídicos porque me parece inacreditável um procedimento oficial no nosso tempo.
— Então somos castigados por fazer bem? Punidos por uma Estado que tem obrigação de prover a uma morada digna para cada família portuguesa?!… Agora pune quem o substitui com recta intenção.
— A quem recorrer?
Antigamente havia nesta diocese uma Comissão Justiça e Paz a quem podíamos expor ou pedir ajuda; hoje não há nada. Ou pagas ou os teus bens são penhorados!
Padre Acílio