PATRIMÓNIO DOS POBRES

Ainda não se apagou dos nossos olhos e ouvidos a presença do Papa Francisco. Um homem que transmite por si mesmo, tudo o que vive e sofre pela humanidade, particularmente com aqueles que são vítimas do abandono e do desprezo. Ao Papa Francisco não se aplica bem este apelido, mas sim o de Papá. Verdadeiramente ele encarna a paternidade da Igreja Católica e toda a humanidade com os sentimentos e atitudes de um Pai que sofre, sobretudo pelos pobres e abandonados.

Ao vê-lo abençoar a multidão com aquele sorriso simples de Santo e ao beijar as crianças, eu senti-O com a ternura das mães, aparentando com os filhos um desejo de os absorver e pô-los junto do coração.

Toda a sua mensagem teve sabor a Evangelho e muito mais, a sua presença e proximidade no coração. Não fui à JMJ23! Acompanhei de longe, pela televisão, mas saboreei a sua bênção, as suas palavras e o seu abraço. Toda a sua mensagem tem sabor a Evangelho e muito mais, a sua presença e proximidade dos corações.

Senti-o a beijar aquelas três crianças e aquela jovem mãe abandonada, com uma agarrada ao peito, outra no carrinho e outra entregue a uma vizinha, as quais não estavam lá, mas no coração do Sumo Pontífice. Assim o senti. Eu tinha-as deixado, na sua situação e na altura em que me retirava para estar uns dias, fora desta pressão da pobreza em Setúbal, viver algum tempo na minha terra natal, com familiares que ainda lá tenho e receber deles as suas ofertas e carinho. Não lhes dei, nem às pequeninas nem à mãe, qualquer ajuda por não ter em minha posse, nem dinheiro nem cheques, mas levei-as no coração.

Senti o Papa a beijá-las também com especial afecto, devido ao seu estado de abandono!

Por me encontrar doente, tive de regressar a Setúbal e topei outra mãe, ainda jovem, com três crianças, postas na rua e abandonadas pelo progenitor, sem qualquer amparo.

Bem diz o Papa Francisco, o n.º 24 da sua Carta Encíclica Fratelli Tutti; «(…) ainda hoje milhões de pessoas — crianças, homens e mulheres, de todas as idades são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura. (…) Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de ser tratada como um objecto. (…)

Com a força, o engano, a coacção física ou psicológica, a pessoa humana — criada à imagem e semelhança de Deus — é privada da liberdade, mercantilizada, reduzida a propriedade de alguém; é tratada como um meio, não como um fim

Ninguém pensa situações, como refere o Papa, que se encontram somente nos países do chamado Terceiro Mundo: — Não. Elas estão muitas vezes no meio de nós e a nossa indiferença não as vê!

Padre Acílio