PATRIMÓNIO DOS POBRES

Entre as centenas de mães abandonadas pelos progenitores com dois, três e quatro filhos, destaco hoje, uma que conheci por ajudar substancialmente a adquirir uma casa sua, comprando metade à irmã.

Esta senhora, com o menino mais novo, foi ao hospital de Setúbal e deste encaminhada para o D. Estefânia em Lisboa, onde os médicos encontraram batimentos cardíacos anormais, encaminharam a mãe e o menino para o único hospital do Mundo, onde a criança deveria ser observada, recolhida e orientada.

A primeira operação já no hospital dos Estados Unidos, foi orçada em 14.500,00€. Difícil foi angariar a respectiva quantia, sendo a soma de 10.000,00€ emprestada pelo patrão, a quem o património acrescentou 4.000,00€ e sendo 500,00€ de um familiar da referida mãe.

Entretanto para medir os batimentos do coração, os médicos recomendaram um aparelho que custou 750,00€. Com a criança naquela situação, o património foi-se deixando levar, até que surgiu também a necessidade de lhe comprar um pacemaker que nos custou 5.600,00€.

A seguir foi detectado um caroço no cérebro do rapazinho e foi levado para a Suíça, onde lhe foi extraído.

A mãe e a irmã de 6 anos, acompanharam o pequeno na ideia de que o hospital pagaria as viagens de ida e volta, o que não aconteceu!! Pois também o património lhe pagou o regresso para os Estados Unidos, no valor de 3.600,00€, onde o menino é sujeito a tratamentos e reavaliações, três vezes ao dia por peritos cardíacos.

Agora foi-lhe sugerida uma outra operação para lhe implantar o filtro que se resultar, ficará assim, senão resta-lhe apenas o transplante. Tudo para já ficou em 6.600,00€. Pagamos com a mãe a irmã e o pequenino, e não lhes deixámos de lhe dar a mão na expectativa que ele venha a ser um homem. Pedimos ajuda a Deus, pois o Martim pertence-lhe, como a nós, a obrigação de fazer tudo por ele.

Esta é mais ou menos a história deste empenhamento com a mãe, as suas dores, os seus filhos e o nosso carinho sempre pronto, para colaborarmos na saúde do pequenino, com 4 anos de idade.

Entretanto no hospital a mãe encontrou gente com o coração grande, que muito se doeu com o seu sofrimento, a pessoa que mais a ajudou foi uma enfermeira de Lagos, que trabalhava neste hospital há 20 anos, ao conhecer a pobreza e o sofrimento que a sua patrícia carregava.

Esta movimentou-se entre os colegas e alguns médicos e arranjaram-lhes 1.600,00€ para ela pagar ao patrão que a havia enganado: comprometeu-se em emprestar-lhe 10.000,00€ e só lhe mandou metade. O pessoal hospitalar achou vergonhosa toda esta situação, mobilizou-se e arranjou a quantia a restituir ao patrão, o resto da dívida. Atitude que desgostou o senhor que lhe deu motivo para, não só não lhe pagar, o salário como prometido, mas mais ainda, não comunicou a situação à Segurança Social e teve ela, que se mexer para receber, pelo menos a baixa, por assistência à família.

Esta mulher viu-se e desejou-se para encontrar uma pensão barata onde pudesse dormir e descansar com os filhos. Valeu-lhe esta enfermeira portuguesa que pediu ao hospital comida para as três refeições diárias e uma ajuda de 400,00 dólares mensais, para suprir os dias que não ia ao hospital. Também pediram à enfermeira e a ela, através do Consulado Português, uma ajuda com os gastos com a criança.

A resposta não demorou: o Estado português dar-lhe-á 2.000,00€ depois de todos os tratamentos e se a criança ficar bem.

A esta ajuda, o vice-diretor do hospital retorquiu na cara desta mãe: — Mas que M…de país é esse que reage assim, a uma necessidade tão premente, de uma criança desamparada de meios económicos.

Como Bendigo a Deus e sinto dentro de mim, a Providência Divina que olha pelos pobres!

Não faria mal, a alguns padres, passar por experiências destas para se convencerem que amontoar dinheiro é uma ofensa a Deus na pessoa dos pobres. Quantos Cristãos pensam e agem da mesma forma, na ilusão de que para eles a vida neste mundo não acaba, ou então que os mausoléus os tornam eternos!

O salmista diz-me: Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a Luz da Vida.

A vossa palavra, é Farol para os meus passos e Luz para os meus caminhos.

Padre Acílio