PATRIMÓNIO DOS POBRES 

Na audição das pessoas graúdas do nosso Parlamento aquando foi desencadeada uma tempestade de palavras, ideias, perguntas e acusações, veio à tona da linguagem, uma evidente verdade: há gente neste país que goza de chorudos ordenados, excelentes regalias, cuja bitola, não sei se passa, pelo ordenado e privilégios do Presidente da República.

Ficou na memória a interrogação de um deputado sobre a justiça de certos privilégios e os apertados salários do comum dos cidadãos deste país.

No entanto a pergunta ficou sem peso porque ao senhor deputado, também atribuído um excelente vencimento e invejáveis prerrogativas.

Eu não me quero meter na política e muito menos criticar alguém, mas acho que a balança da Justiça neste Jardim à Beira Mar Plantado está muito desafinada.

Justifica-se os baixos salários para não aumentar a inflação, mas os homens do governo não vêem este desnível, nem lhes interessa falar do assunto com clareza.

Aumentaram os juros da habitação sob pretextos semelhantes, mas que se faz de concreto para garantir que cada família tenha uma casa para viver? Sim, que é que se faz de consistente?

Uma pobre com dois filhos, ainda pequenos, fora abandonada há sete meses pelo progenitor dos mesmos. Fez logo queixa ao tribunal e… até hoje, nada! Dizem-lhe que só depois das férias judiciais pegarão no assunto para chamarem o homem à pedra!...

Quem lhe tem dado dinheiro para pagar as rendas da casa? Quem? — O Património. O que ela ganha pouco sobra para alimentação, farmácia de si própria e dos filhos.

Agora teve de ser internada no hospital e sujeita a uma cirurgia. Quem pagou à ama, durante um mês, para que ficasse com as crianças? — O Património.

Tanta gente a ser despejada da sua habitação por não aguentar as rendas? Quem lhes tem valido? — O Património, cujo fundo já se vê.

Há dias uma abandonada com 3 filhos, veio de Lisboa bater à porta da casa onde me abrigo e implorar socorro para a sua situação, de ser despejada e se ver na rua, num mar de angústia e sofrimento sem porto.

Neguei-lhe auxílio! Só por não ter nada e também por me faltar dados, se não estaria a ser enganado. Mas fiquei com a dor! Telefonei para Lisboa a falar com alguém que por lá trabalha e me prometeu ajuda, para encontrar abrigo para a pobre. Partilhou a sua e a minha aflição.

Uma irmã nossa, portuguesíssima como nós vê-se cair no seio da pobreza, ela e os filhos.

Não se conseguiu nada. Todas as instituições estavam cheias e ela mergulhou no abismo da pobreza, sem barco nem vela.

Outra veio implorar-me o pagamento da renda da sua casa. Devia 11 meses de uma renda de 65.00€. Levou logo na cara: - Eu não pago rendas dessas. Uma casa vale muito mais. Se fosse um valor de 650.00€ eu poderia pensar em acudir-lhe. Agora uma renda desse valor? Nem pensar.

— O seu marido o que faz? — Não tem trabalho.

— Ora há por aí tanto trabalho, o seu marido não quer trabalhar!! Isso sim! Ele não quer, nem sabe trabalhar o que é uma extrema miséria. Uma renda dessas, é somente um motivo pedagógico para vocês não pensarem que o Estado vos dá tudo de graça. O seu marido que vá trabalhar, se não for de uma maneira é de outra. Assim não!!

A lei do trabalho é um preceito Divino, quem não trabalha não deve de comer. Infelizmente não é uma lei cívica.

E mais, quantos casos concretos passam por mim e aqueles que tem obrigação de ouvir as lamentações do povo, regalam-se aos milhões, sem que nada os inquiete.

Estás a ver meu irmão como está o prato da balança, levantando-se em alta, o lado da pobreza extrema?! A Segurança Social que deveria intervir imediatamente não o faz. Espera pelo tribunal e este que deveria ser rápido, adormece à sombra da indiferença.

Aqueles que têm obrigação de ouvir as lamentações do povo, regalam-se aos milhões sem que nada os inquiete.

Quando virá um projecto Lei que ponha em primeiro lugar o dever da Segurança Social de agir, antes do juízo do tribunal? Será que os pobres e abandonados estarão proibidos, pelas demoras dos tribunais: de comer, de dormir, curar as doenças, obrigados a sofrer de todos os males desta inércia suja d poder?!...

Padre Acílio