PATRIMÓNIO DOS POBRES

Foi um desabafo de uma cristã colaboradora activa da liturgia e do canto na igreja.

O Papa Francisco continua sem cansaço, a pregar uma doutrina nova: o rosto de Deus que Jesus Revela é de um pai para os pobres e próximo dos pobres.

Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto de uma fatalidade, mas sinal concreto da Sua Presença no nosso meio.

Não O encontramos quando e onde queremos, mas Reconhecemo-LO na vida dos pobres na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver.

Não me canso de repetir que os pobres são verdadeiros evangelizadores porque foram os primeiros a serem evangelizados e chamados a partilhar a Bem Aventurança do Senhor e o seu Reino.

Os pobres de qualquer condição e latitude evangelizam-nos porque permitem-nos descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles têm muito para nos ensinar.

Fábio tem cerca de trinta anos. A mãe abandonou-o com dois anos e foi criado pela avó e pelo pai. A sua juventude foi uma avaria completa. Apanhado três vezes a conduzir sem carta, e sem dinheiro para pagar as multas foi obrigado a pagá-las na prisão com quatro anos e meio.

Eu conhecia bem o rigor das prisões. Hoje já não.

Sabe alguma coisa de construção civil e pôs-se a reabilitar a casa da avó que ele herdou.

Soube do Património. Telefonou-me a pedir ajuda: Sim senhor! Eu vou aí ver. É um primeiro andar num edifício com mais de cem anos pois as divisões ainda são feitas em tabique, isto é, madeira e massa de cal. O chão é de tábuas velhas, uma ou outra apodrecida que serão substituídas. Depois de raspadas o verniz cobri-las-á dando-lhes um tom nobre. O teto será renovado com pladur, as janelas substituídas e o ambiente mobilado.

Agora dorme no piso, no colchão que todos os dias levanta ao alto para não o sujar nem impedir as obras.

Andar com o Fábio, conversar com ele sinto a presença do Pobre que nasceu num presépio e morreu na Cruz por amor de todos os pobres.

Leitor amigo se não conheces esta Presença é porque não te deixas evangelizar! Nele descobri a justiça dos pobres e a injustiça dos ricos. Não defendo que este jovem fosse absolvido. Não senhor! Mas sim que a sua pena fosse proporcionada com a que é dada aos ricos e poderosos que roubaram o povo português tão castigado por impostos, sem saber que eles são obrigados a restituir o que roubaram e não serem aliviados de roubos, mas sim, nós sermos aliviados dos injustos impostos que continuamos a pagar ao Estado.

O princípio mais radical do Evangelho é a Justiça espezinhada pelos poderosos ladrões.

Pai Américo tinha razão ao gritar: Ai! Se tu soubesses como é belo o Evangelho dos Pobres as montanhas caminhariam à tua frente e tu cantarias vitória.

Uma abandonada confessou-me que o pai dos dois filhos morreu de overdose e a deixou grávida.

Olho para a senhora e não tenho dúvidas! Ela diz-me que a gravidez é de alto risco e que trabalhava nuns viveiros perto do Poceirão com um subsídio de duzentos e sessenta euros. A casa custa-lhe trezentos e oitenta euros por mês. Trazia uma série de receitas para aviar, mas como? Dei-lhe dinheiro para aviar as receitas, paguei-lhe dois meses mais a água. Foram ao todo novecentos e quatro euros. Admite-se que um poderoso vigarista vá passar o Natal à Suiça e não se dê conta de injustiça em que vive tranquilamente?

Isto é Evangelho? E não vai ele à missa e à comunhão todos os domingos? Mas então o que é isto? É Justiça? Ou é suborno? Os poderosos governam-se à vontade e os Pobres morrem à míngua.

Assim a pregação mais forte do Evangelho é a que os pobres fazem com o seu sofrimento.

Devemos vê-los, ouvi-los, visitá-los e sentir como eles para nos evangelizarmos.

Oh! Vicente de Paulo, oh! Frederico Ozanam ou tantos outros que amaram os Pobres, vinde iluminar esta gente que se atiram para um caldeirão e se afogam sem dar por isso.

Padre Acílio