
PATRIMÓNIO DOS POBRES
É imperdoável que o Património do Pobres tenha deixado passar a exortação do Santo Padre Papa Francisco sem fazer qualquer referência no dia em que foi celebrada a efeméride.
"Pobres sempre os tereis convosco"
"1. Estas palavras foram pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por altura de uma refeição em Betânia, na casa de Simão «o leproso». Narra o evangelista que entrou lá uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito precioso e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Este gesto suscitou grande estupefacção e deu origem a duas interpretações diversas.
A primeira foi a indignação de alguns presentes, incluindo os discípulos que, ao considerar o valor do perfume (cerca de 300 denários = salário anual de um trabalhador), pensam que teria sido melhor vendê-lo e dar o produto aos pobres. Segundo S. João, é Judas o intérprete desta posição: «Porque é que não se vendeu este perfume por 300 denários para os dar aos pobres?». E acrescenta ele: «Ele, porém, disse isto, não porque se preocupava com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava». (Jo 12, 5-6). Não é por acaso que esta crítica sai da boca do traidor: os que não reconhecem os pobres atraiçoam o ensinamento de Jesus e não podem ser seus discípulos.
A segunda interpretação é dada por Jesus: «Deixai-a! Porque estais a atormentá-la? Praticou em mim uma boa acção.» (Mc 14, 6).
Jesus sabe que está próxima a sua morte e vê naquele gesto a antecipação da unção de seu corpo morto, antes de ser colocado no sepulcro.
Esta visão ultrapassa todas as expectativas dos convivas. Jesus recorda-lhes que ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque representa a todos. E é também em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizadas e descriminadas que o filho de Deus aceita o gesto daquela mulher, que, com a sua sensibilidade feminina, mostra ser a única que compreendeu o estado de espírito de Jesus.
Esta mulher anónima - talvez por isso destinada a representar todo o universo feminino que, no decurso dos séculos, não terá voz e sofrerá a violência - inaugura a presença de mulheres que participam no momento culminante da vida de Cristo: a sua crucifixão, morte, sepultura e aparição como ressuscitado. As mulheres, tantas vezes descriminadas e mantidas longe dos postos de responsabilidade, são, no Evangelho, protagonistas na história da revelação, daí a conclusão de Jesus: «Em qualquer parte do mundo, onde for proclamado o Evangelho, há-de contar-se também, em sua memória, o que ela fez.» (Mc 14, 9)."
Quem dera que esta doutrina fosse pregada constantemente em todas as igrejas e por todos os ministros da PALAVRA durante o tempo suficiente, até que se criasse, em cada paróquia, um grupo de cristãos ou vários, conforme a extensão e número de pessoas, capazes de olhar pelos pobres e dar conta deles a toda a comunidade eucarística a fim de que a comunhão não seja apenas um papa-hóstias.
P.S.: Para evitar confusões, peço aos amigos do Património que dirijam a sua correspondência a Património dos Pobres.
Padre Acílio