PATRIMÓNIO DOS POBRES

Neste rolar das perspectivas mundanas em que a economia impera sobretudo contra a humanidade pobre eu não sei se alguma vez se pensou em ajudar não só os trabalhadores abrangidos pelo Layoff mas também aqueles que ainda não gozavam de uma situação definitiva, vinculada a qualquer empresa os quais, foram os primeiros, a serem despedidos por causa da pandemia.

Naturalmente que as preocupações governamentais se direccionam em primeiro lugar às empresas em dificuldades. Sou o primeiro a reconhecer que assegurar o financiamento às criadoras de trabalho para os portugueses é um dever, uma vez que a União Europeia veio ao encontro das necessidades surgidas àquelas empresas pela pandemia mas verifico também que os primeiros a precisarem de auxílio, são os trabalhadores não abrangidos por este sistema, os quais, na verdade, precisam mais que todos de ajuda.

Àqueles que ainda tinham família com capacidade para os socorrer ainda se foram aguentando mas e os mais pobres e mais desprotegidos amargaram fome, pesadelos e desesperos.

Seria bom que os responsáveis por distribuir estes dinheiros tivessem em conta os caídos na pobreza oriunda das dificuldades que o Covid-19 provocou e não somente os grandes, como é costume.

A pobre mulher telefonou-me várias vezes insistindo na necessidade de falar comigo, se eu a recebia.

- Mas que é que me quer? - Perguntava-lhe com insistência até que veio a resposta que eu já suspeitava:

- Padre é que eu estou em risco de perder a minha casa e os meus bens.

- Então porquê?

- É o Banco.

- Mas, minha senhora o Património dos Pobres não resolve problemas bancários.

Não satisfeita com a negativa implorou-me ao menos que a recebesse para lhe dar um conselho. Eu percebi. Um conselho era apenas para eu cair em recebê-la.

Era uma mulher ainda nova, mãe de família, já com um filho e em vésperas de outro. Fora despedida ao mesmo tempo com o marido da mesma empresa. Tinham comprado um carrito bom mas em segunda mão para irem ambos para o mesmo trabalho, através do leasing de um Banco. Há 5 meses sem ganhar e, agora a banca veio para cima deles; ou pagam ou vamos pôr em penhora exigindo já 1368 euros.

- Olhe que eu não tenho possibilidades de lhe dar mais que 500 euros.

O Património tem só o que vai caindo dia-a-dia dos corações generosos dos meus leitores e naquela hora um senhor engenheiro havia-me enviado um cheque de 2500 euros, mas os pobres de roda de mim são como um enxame de abelhas em volta do cortiço e eu tenho de governar o barco. A senhora chorava e chorava!... Os soluços faziam-lhe saltar o ventre e até temi algum problema com a gravidez.

- Não tenho ninguém!... Não tenho nada, o meu marido também está sem trabalho. Faz umas coisitas na oficina de um amigo mas pouco recebe - e não estancava o choro.

- Olhe minha senhora, dou-lhe metade. O resto vá pedi-lo a alguém amigo, à Segurança Social ou a alguma Igreja. Não lhe posso dar mais. - Nem assim. As lágrimas continuaram a cair.

Bem desejava eu que esta chuva dos seus olhos caísse em cima dos que nos governam.

Passei-lhe um cheque com metade do seu débito. A pobreza é muita e como naquele tempo quanto mais eu recomendo que não falem disto a ninguém as notícias espalham-se pelas gentes desgraçadas. São muitos a pedir. Nem todos levam. Mas só naquele dia, aos 500 aos 600 aos 200 e aos 800 eu dei mais de 4000 euros. E não sei! Ai! de mim, se não fora a Providência Divina que age nos corações misericordiosos dos leitores do Gaiato e mais.

Que este grito chegue a quem é de direito!...

Os Pobres, os pequeninos são aqueles que nunca são ajudados, pois não têm, nem peso social, nem político. Que os auxílios da União Europeia cheguem também às periferias.

Padre Acílio