PATRIMÓNIO DOS POBRES

Tinha pensado fazer um resumo da encíclica todos irmãos do nosso querido Papa Francisco, mas ela é tão rica, tão profunda e tão alargada que não sou capaz de a sintetizar de forma a que todos os leitores d'O GAIATO possam ter uma ideia próxima do seu conteúdo.

O Santo Padre inspirado em São Francisco de Assis propõe-nos uma vida com sabor a evangelho que não deve de ser outro o rumo diário de cada cristão.

Aquele Santo que se sentia irmão do Sol do Mar e do Vento tinha consciência de que a sua carne era mais fraterna dos pobres, abandonados e dos doentes descartados, dos últimos do que a própria Natureza.

Abrir-se ao Mundo é uma expressão de que hoje se apropriaram a Economia e as Finanças.

Que significado têm hoje as palavras como democracia, Liberdade, Justiça e Unidade? Foram manipuladas e desfiguradas para serem utilizadas como instrumentos de domínio, como títulos vazios em conteúdos para os quais a palavra servir justifica qualquer acção.

Há regras económicas que foram eficazes para o crescimento mas não de igual modo para o desenvolvimento humano integral. Aumentou a riqueza mas sem equidade e assim nasceram novas formas de pobreza.

Hoje como ontem na raiz da escravatura está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objecto.

A parábola do bom samaritano é a base de toda a reflexão do Papa. As personagens bem caracterizadas, as atitudes de cada um, a apreciação global de todos põe bem em evidência o falhanço de uma Fé sem obras, sem motivações de fundo cristão.

Para se tornar possível o desenvolvimento de uma comunidade Mundial capaz de realizar a fraternidade a partir de Pobres e Nações que vivam a amizade social é necessário Política Melhor. Uma política colocada ao serviço do bem comum, mas hoje, infelizmente, muitas vezes a política assume formas que dificultam o caminho para o bem comum.

Deixai-me repetir aqui que a crise financeira dos anos 2007 e 2008 foi ocasião para o desenvolvimento de uma nova economia mais atenta aos princípios éticos para uma nova regulamentação da actividade financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas não houve uma reacção que fizesse repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o Mundo. Antes pelo contrário parece que as reais estratégias posteriormente desenvolvidas no Mundo se têm orientado para maior individualismo, menor integração, maior Liberdade para os que são verdadeiramente poderosos e sempre encontram maneira de escapar ilesos.

A encíclica aborda todos os aspectos da caridade e Liberdade, bem como as várias formas de exercer no plano individual com o próximo e os que estão longe.

A caridade não tem fronteiras, nem nações nem continentes. A caridade e a Verdade são a Luz de todos.

Porque me esqueci do meu exemplar da referida encíclica tive que recorrer a uma cidade próxima para comprar o pequeno livro, cujo o custo é irrisório. O que me fez sentir o alheamento da pastoral à voz do papa.

Não quero que os meus leitores deixem de ler e reler este documento que nos abre os olhos não só para os nossos deveres como para as obrigações dos outros, sobretudo dos responsáveis políticos que corroem a própria política como a actividade nobre assim definida pelo Santo Padre.

Toda a encíclica revela da parte do Papa devoradoras preocupações com os pobres, os infelizes e descartados, os últimos de toda a humanidade num desejo sublime de fraternidade e amizade social em todos os continentes.

Francisco acentua o que diz São João Crisóstomo: não fazer os pobres participar dos próprios bens é tirar-lhes a vida, não são nossos os bens, mas deles os bens que aferrolhamos. Continua o próprio Pontífice: o direito à propriedade privada só pode ser considerado como um direito natural secundário e derivado do princípio Universal dos bens criados (...) mas acontece muitas vezes que os direitos secundários se sobrepõem aos prioritários e primordiais.

Padre Acílio